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quinta-feira, junho 02, 2011
Haverá sangue

Muito se tem falado acerca da ousadia do programa que o Bruno Nogueira escreveu para o horário nobre da RTP. Para mim, a única dúvida acerca d’ “O último a sair” prende-se com a escolha de horário, nada mais. Sendo que o meu eterno exemplo de serviço público de televisão se chama BBC, um horizonte longínquo para a nossa emissora, posso dizer que já lá vi coisas bem mais ousadas, mas mais tarde.

Mas a questão aqui é outra: gostava de ver essas mesmas pessoas, chocadas com o facto de haver crianças a ver o pirilau do Gonçalo Waddington logo a seguir ao jantar, pronunciarem-se acerca da muito anunciada transmissão em directo de mais uma “corrida de toiros”, em horário dito nobre, – lá se vai a nobreza, pelo menos, enquanto característica – com imagens bem mais violentas do que qualquer uma proporcionada pelo Gonçalo (e mesmo que fosse o Roberto Leal). Será que não os incomoda a lição que a televisão pública está a dar às mesmas crianças? Sendo serviço público, a RTP tem obrigação de, mais do que preocupar-se com a mesquinhez das audiências, educar e civilizar um povo com tanto ainda para aprender. Mas há um lobby inexplicável, como em tantos outros sectores da sociedade. E continuamos nisto.

Esta situação faz-me lembrar aqueles estados americanos onde um adolescente não pode comprar uma lata de cerveja mas pode comprar uma arma.

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Damon at 11:53 da manhã

sexta-feira, maio 06, 2011




A partir de hoje à noite e até dia 26 de Junho, alguns poemas meus vão estar expostos nas árvores da Praça do Município da Maia, cidade onde vivo – quase – desde que nasci. Uma boa forma para pôr os transeuntes a ler poesia e para os passarinhos que queiram demonstrar de alguma forma o seu desagrado para comigo.

Convido-vos a visitar a minha exposição, integrada no ciclo “Maia, Cidade em Performance”, mas também todas as outras, presentes no Fórum da Maia.

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Damon at 3:13 da tarde

segunda-feira, abril 11, 2011

O sonho de Saramago

Apaixonei-me pela escrita de Saramago depois de ler um livro que agora, com os óculos de ver ao longe, nem me parece dos melhores, chamava-se “Todos os Nomes”. Já não me faltam muitos para ter lido a obra completa, ambição que acarreta o desgosto de, lido o último, não haver mais para ler.

“Jangada de Pedra” teria sido uma escolha óbvia, logo no inicio do percurso. O facto de ter visto o filme de George Sluizer atrasou o processo. Por norma, leio o livro antes de ver o filme mas o DVD estava ali à mão e a versão em papel não, por isso…

Anos volvidos, resolvi que era tempo de pegar no sonho ibérico de Saramago, o registo romântico da ideia repetida inúmeras vezes em entrevistas, cá como lá. Ao mesmo tempo, um certo cepticismo relativamente a uma Europa aparentemente próxima e distante na prática também fica demonstrado, apimentado ainda pela anedota de ficar Gibraltar náufrago a ver partir o resto da jangada.

É um bom livro, quanto a mim, mas não está ao nível dos extraordinários “Ensaio sobre a cegueira”, “Memorial do Convento” e mesmo “As intermitências da morte” e “A viagem do elefante”.

Quis o destino que por estes dias em que me fiz ao mar à boleia de uma jangada saísse um estudo sobre a possibilidade de uma “união ibérica”. 46 % dos portugueses e 39 % dos espanhóis parecem concordar. Eu diria que essa “união”, numa versão mais amarga, com laivos de imperialismo subtil, já existe há algum tempo, desde que temos contas no Santander, compramos a roupa na Zara, pomos gasolina na Repsol, comemos peixe da Pescanova e enchemos o El Corte Inglés. Ah e pior que tudo, dobramos anúncios com uma cantiguinha à Paulo Bento.

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Damon at 3:36 da tarde

segunda-feira, abril 04, 2011

Parabéns FCP

Há um novo campeão nacional de futebol. Sem sombra para dúvidas, é a melhor equipa que fica com o título – tal como já o ano passado tinha acontecido. Os portistas estão de parabéns, excepto:

- os idiotas que apoiam páginas anti-Benfica;
- os que têm cachecóis “odeio-te Benfica” e coisas do género ou piores;
- os que foram a Vigo apoiar o Celta há uns anos;
- os que têm duas equipas: o Porto para ganhar e o Benfica para perder;
- os que no estádio comemoram golos do Porto com cânticos alusivos ao Benfica;
- os que têm orgasmos de cada vez que o Benfica perde;
- os que levam pedras e bolas de golfe para o estádio;
- os que não sabem ganhar como também não sabem perder.

Estes portistas não merecem ser campeões. Aos outros, os meus sinceros parabéns.

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Damon at 4:37 da tarde

sexta-feira, março 25, 2011

A Queda dum Marmanjo

Eis o segundo dia – nesta temporada – de Portugal sem governo. Ou melhor, o executivo está lá, mas é como se não estivesse. Cheira-me que a própria acção de encomendar uma pizza para o almoço lhe é negada, neste momento.

A queda do porreiraço José Sócrates devia ter-me alegrado. Fui um entre as dezenas de milhar presentes numa manifestação amaldiçoada pelos comentadores alapados. Senti-me minúsculo numa Praça da Liberdade tão pequena para tanta gente. Mas a queda do nosso “magalhânico” PM deixou-me estupidamente apático. É que a seguir vi o ainda mais porreiro Pedro Passos Coelho e a comida começou-me a enjoar, enrolando-se-me no céu-da-boca sem pôr pés ao caminho descendente. A presença – não por si só, mas a forma que ela tomou – do líder do PSD, futuro timoneiro do país – desculpem lá, ó senhores da Direita, eu sei que preferem “homem do leme”, “timoneiro” era Mao demais – no funeral do grande Artur Agostinho fez-me piscar os olhos duas longas vezes, como quem diz, “estou cansado destes marmanjos e não tenho horizonte”.

Não posso estar aqui com falsos optimismos, esses deixo-os para o Jorge Jesus que ainda acredita no título. Lamento mas não consigo acreditar num futuro próximo.

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Damon at 6:59 da tarde

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Este foi um fim-de-semana James Bond. Volta e meia apetece-me o enredo ingénuo de um filme da saga mais estilosa da história do cinema. Compreendo algumas críticas ao sexismo latente do protagonista, à estrutura repetitiva, etc. Mas a verdade é que há algo de mágico naquele smoking, naqueles carros, naquela linha de baixo irresistível.

Os dois filmes que vi não foram escolhidos aleatoriamente: um representa o princípio da carreira de Bond, apesar de recente, “Casino Royale”, com o mais musculado agente secreto do cinema; o outro é um filme maldito, não reconhecido como parte da família, apesar de ter como protagonista “O” James Bond, Sean Connery, que retrata os últimos dias no activo de um agente com dificuldade em manter-se em forma, e chama-se “Never say never again”.

Curiosamente, nenhum dos dois filmes tem o contributo musical ímpar de John Barry, autor de quase todas as bandas sonoras de Bond, entre muitas outras melodias inesquecíveis. Estava eu a pensar nisso, no Domingo, sem saber que, no mesmo dia, em Nova Iorque, o próprio Barry dizia adeus ao mundo. A sua obra estende-se da música para cinema aos outros álbuns, menos conhecidos, como “Eternal Echoes”, indissociável para mim de um argumento que escrevi.

John Barry criou algumas das melodias que me fazem fechar os olhos e imaginar-me obrigatoriamente no conforto de uma sala de cinema.

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Damon at 7:21 da tarde

terça-feira, janeiro 25, 2011

Acabei de ler “The Road”, de Cormac McCarthy. Numa excepção indesejada, vi o filme e apenas depois comprei o livro, numa promoção 2 por 1 da loja WH Smith de Winton. Já que falo nisso, o outro livro da promoção foi o “The Lovely Bones”, de Alice Sebold, também ele transformado em filme. Na altura em que vi “The Road”, com o Viggo Mortensen e a Charlize Theron, ouvi o meu professor e amigo John Foster comentar que era uma pena, o livro era tão bom, merecia mais. Quanto a mim, esse é um mal geral, os livros merecem sempre mais. Teria sido impossível encaixar toda a matéria humana presente na obra de McCarthy num filme com menos de duas horas. O livro é um poema americano, sendo que “americano” se auto-sublinha sempre que se fala deste autor. Trágico e cruel como o destino das duas personagens principais. Os diálogos são secos porque ali, como em todos os outros aspectos, há que poupar a saliva. No fim, continuo a gostar do filme. Do livro, ainda mais.

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Damon at 5:24 da tarde

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Morreu Carlos Pinto Coelho. E é verdade, não é esta a hora própria para amargurar a forma como este grande jornalista foi tratado na hora da saída, por muito que essa tentação me bata à porta. Quero sim relembrar a importância de um homem que, para alguém como eu, que cresceu nos anos oitenta, numa casa onde a cultura nunca teve um lugar à mesa, quando muito ia-se buscar um banco à cozinha, acabou por ser informador e formador. Se a carreira de Carlos Pinto Coelho fosse um texto, eu acabá-lo-ia com reticências e nunca com um ponto final. E com muito estilo - classe - pelo meio, como o pormenor importantíssimo de saber rir de si próprio. Carlos Pinto Coelho sabia ser cromo, mas era um daqueles raros, valiosíssimos, de um craque e nunca de um jogador mediano. Somos todos herdeiros da imensa riqueza que este homem nos deixou.

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Damon at 11:51 da manhã

domingo, dezembro 12, 2010

Um Domingo em Dezembro

Não veio o vento.
Não veio a voz do tempo
Anunciando presenças
Nem ausências,
Essas notadas há já muitas folhas
De calendário.

Um bloco de notas.
Rasgado em pequenos pedaços
De linhas tortas,
Como as que o homem impotente
Mas importante
Mancha nas suas horas tristes.

Vieram nuvens,
Foi vê-las chegar
Nos seus casacos de peles,
Acenando notas de vinte
Que até pareciam gotas de chuva
Aos meus olhos patetas.

Nunca me lembro
Desta presença vazia
Nos outros dias,
Entendo tudo
Como um bom comerciante.

Nunca me sento
Nesta cadeira feia e fria
Nos outros dias,
Caminho na margem
E o horizonte é gélido
E maravilhosamente parado.

Mas o vento não veio
Hoje
E faz-me falta a sua música,
Mesmo quando tosse
Para cima de mim
E me contagia com o terrível vírus
Da melancolia.

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Damon at 5:14 da tarde

quarta-feira, dezembro 01, 2010

O dia em que se celebra a Restauração da Independência ganha significado simbólico nos dias que correm. Está muito bem que lhes chamemos “nuestros hermanos”, conheço muitos irmãos que se dedicam quase profissionalmente a passar a perna uns aos outros. No entanto, por uma coincidência que deve fazer pensar, a celebração da separação entre Portugal e Espanha acontece, este ano, na véspera do anúncio da FIFA que ditará quem irá organizar o campeonato do mundo de futebol de 2018. A suposta “candidatura ibérica” – tão ibérica como as linhas aéreas espanholas ou o presunto – parece ser uma das favoritas.

Um jornalista da SIC dizia há pouco que seria histórica a vitória da proposta conjunta, uma vez que Portugal nunca organizou uma competição desta dimensão. Entristece-me que se considere histórica esta esmola vinda de Madrid, quando nada mais é senão uma humilhação extrema para o nosso país. Dos 21 estádios apresentados à FIFA, 3 são portugueses – Alvalade, Dragão e Luz. Das 18 cidades, apenas 2 são em Portugal – Lisboa e Porto. O representante da candidatura junto do comité da FIFA é espanhol. Nos últimos dias, veio a público a hipótese de tanto o jogo de abertura como a final serem jogados em território espanhol. Parece-me que não é preciso apresentar mais nada, vale?

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Damon at 3:30 da tarde

segunda-feira, novembro 29, 2010



Este senhor ensinou-me música; ensinou-me a ler; a escrever; a amar; a procurar; a apreciar as viagens nos autocarros da National Express como ninguém... Foi-me apresentado pelo meu amigo Rui Maia, muito muito antes dos X-Wife, nos tempos da secundária e das compilações em cassete. Neil Hannon. Que é como quem diz The Divine Comedy. Se as contas não me falham, sábado foi a sexta vez que o vi ao vivo. Desta vez foi diferente, sem orquestra nem sequer a banda habitual, apenas aquele irlandês franzino com ar de quem lê demasiado – não, ele apenas lê muito, nunca demasiado – e vê ainda mais filmes, um piano, uma guitarra e um copo de vinho. Ali, a alguns centímetros, um dos melhores compositores da actualidade. O meu amigo Neil.

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Damon at 11:02 da tarde

sexta-feira, novembro 19, 2010

O Benfica aderiu à campanha “Compro o que é nosso”. Irónico. Um clube com 9 jogadores portugueses em todo o plantel – sendo que apenas 2 ou 3 jogam regularmente – a apoiar uma iniciativa que visa motivar-nos a comprar produtos feitos no nosso país.

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Damon at 7:12 da tarde

quinta-feira, novembro 11, 2010

Não está a ser fácil reabituar-me à vida em Portugal. Esforço-me todos os dias por apreciar o país. Sou bem-sucedido em certos aspectos: o rio Douro, as castanhas assadas, o jardim da minha casa, os pastéis de nata e o café. No entanto, com as devidas – muitas excepções – o facto de sermos um povo estúpido – sim, eu disse estúpido – não ajuda em nada o ex-emigrante a gostar do regresso a casa. Aqui há dias confessei que, caso tivesse muito dinheiro, compraria a floresta atrás de minha casa para a transformar num parque público. Ontem passei por lá. Fiquei satisfeito por saber que alguém, certamente um altruísta, se lembrou de lá pôr uma sanita. O primeiro passo foi dado para construir as infra-estruturas necessárias ao funcionamento do parque. Mais à frente, não querendo soar mal-agradecido mas achando que talvez seja um comodismo exagerado, reparei que alguém tinha instalado uma televisão numa clareira. À volta, todo o tipo de materiais de construção, provavelmente doados por um empresário responsável, para que construamos um abrigo para a chuva. Bonito.

E nem vale a pena referir a educação cívica dos portugueses ao volante, pois não? Alguém contesta a minha afirmação de que somos um povo estúpido (ESTÚPIDO)? Bem me parecia.

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Damon at 12:35 da tarde

terça-feira, novembro 09, 2010

Algumas pessoas surpreenderam-se perante o meu interesse no filme “A Rede Social” (“The Social Network”) de David Fincher. A verdade é que a insistência em não ter a minha cara no facebook me aguçou ainda mais a curiosidade. A assinatura do brilhante Fincher ajudou à festa, claro. O fenómeno aparece no filme tal como eu o imaginava: algo que começou pura e simplesmente como uma maneira fútil de mostrar caras, comparando-as e atribuindo pontuações a cada uma delas. O progresso fulminante de Zuckerberg e amigos (?) começa por ser difícil de acompanhar, tal a velocidade a que a acção se desenrola mas mais uma vez retrata na perfeição o que se passou na realidade. O trabalho dos actores é bom, em geral, sem ser extraordinário. Apesar de ter gostado, nem por isso mudei de ideias: vou continuar out…

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Damon at 7:08 da tarde


Ando viciado nos Chairlift. Tomei conhecimento da banda americana através de um programa de televisão chamado “Live from Abbey Road”. O seu primeiro álbum, “Does you inspire you?” não pára de rodar no computador e no leitor de MP3. É a melodia simples mas não demasiado gasta, como acontece com grande parte das bandas na fronteira entre a pop e a música indie, mas é principalmente a Caroline Polachek: bela, sensual, com uma voz expressiva e infinita, das tais que obrigam a fechar os olhos. Aguarda-se com ansiedade o segundo álbum que, segunda a Caroline – bela Caroline – já está a caminho.

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Damon at 6:55 da tarde

quarta-feira, outubro 13, 2010

Sou Benfiquista. Quem me conhece sabe o quanto vibro com o meu clube, esforçando-me sempre por me manter para cá do razoável. Mas o texto não é sobre o meu clube. A introdução serve apenas como – triste – reforço do meu lamento. Tendo em conta a minha preferência clubística, o encerramento de uma secção de um clube como o FC Porto pouco ou nada me diz. Tanto me faz que acabem com o andebol, com o hóquei ou com os matraquilhos. Mas o atletismo é diferente. O fim anunciado dessa modalidade deixa-me triste. Habituei-me, por uma razão muito especial, a apoiar uma atleta em particular – a melhor, a mais forte, a mais linda, mas não a mais conhecida – não hesitando nunca entre o desejo de vitória dela e a preferência pelo meu vermelho habitual. Parece que é mais um bocadinho dela que vai embora. Tenho pena. Embora esta notícia já tenha vindo a público há algum tempo, hoje ganha um significado maior. É que essa atleta – lutadora e corajosa – faria hoje 22 anos.

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Damon at 4:19 da tarde

sábado, outubro 02, 2010

Numa semana, a mistura de emoções.

1
O adeus do costume. Mas um adeus do costume que soa mais grave, definitivo sem o ser. Como escrever um poema e deixá-lo fugir entre os dedos, sem querer, para o vento – o meio de transporte dos poemas. Sei que estaremos juntos em breve – breve, brevemente, como sempre tento enganar o tempo – mas custou-me ainda mais, desta vez. Mesmo quando olhava para ti e pensava: “vai e sê feliz, porra, tu mereces mesmo”. E é isso que interessa. Nem o poema que o vento roubou nem os meus dedos à procura dele.

2
O cancro. Essa besta sorrateira. Estive cara a cara com mais uma lutadora, esta semana. Só lhe vi metade do peso, que a outra metade foi roubada. Mas a pessoa estava lá. Com vontade de erguer a leveza dos seus ossos e fazer-se à vida, mesmo que isso significasse apenas acompanhar os convidados à porta. Não vale a pena desistir. É que esta besta ainda por cima é diferente, o resultado exacto do dito “não mata, mas mói”. Vai alastrando, mas pode alastrar até aos 90 anos. As recordações de um outro monstro, o medo, a admiração por estas pessoas – tudo às voltas dentro de mim.

3
A minha prima tinha “o rei na barriga”. Ninguém se cansava de repetir a piada. O que até tem graça é “o rei” ter nascido tão perto do centenário da República. Em dois ou três segundos, o Artur vai-se transformar num homem bonito e inteligente – na tradição da família. Por isso, deve ele e devemos nós aproveitar esta fase brincalhona da vida e vê-lo em toda a sua inocência dizer olá ao mundo. Priminho, bem-vindo à Terra, para já só te desejo muitas brincadeiras com o teu irmão, tem paciência com as inevitáveis ciumeiras, e espero ver-te muito em breve.

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Damon at 12:49 da tarde

sábado, setembro 25, 2010

A tradicional constipação de Setembro vem como um “ai” bem pronunciado. Estou habituado a que venha e goste tanto disto por aqui que fique sempre por algum – demasiado – tempo. E qualquer sopro inocente me atira para a cama, indiferente a chá ou ben-u-ron. Por outro lado, as tensões perigosamente altas vêm como um “eh, pá”, que não é o gelado da Olá, a não ser que seja engolido todo de uma vez, sem mastigar, com a pastilha elástica manhosa e tudo.

Antes da derrota, ainda consegui ir ver “O último voo do flamingo”, de João Ribeiro, baseado num dos mais brilhantes brincalhões da língua portuguesa, Mia Couto. O meu interesse pela obra do escritor moçambicano foi o principal motivo para ir ver o filme. Gostei de ver o excelente trabalho dos actores, quase todos desconhecidos. Alguns efeitos especiais eram dispensáveis porque pouco convincentes, mas não se pode ter tudo.

Ando a construir pequenos vídeos para o Festival Literário de Poole, em Inglaterra. Não sei muito bem quantos, porque ainda não me disseram quanto tempo vou ter, nem que meios. É uma sensação familiar, para um português.

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Damon at 6:29 da tarde

quarta-feira, setembro 08, 2010

A minha amiga Rita Sá desenvolveu mais um projecto extremamente original. O resultado é um conjunto de pequenos filmes de animação com humor inteligente.

Esta é a explicação no site:

With text messaging and social media postings, the limit of characters has made us involuntarily reduce our vocabulary and become accustomed to typing and reading abbreviations and acronyms, along with the generalized use of emoticons to contextualize the message’s emotional tone. The two characters, emo & tick, are based on Japanese emoticons, and engage in different conversations related to this new condition: short instant and condensed messaging as a way of communicating.

Este é o site onde podem ver os dois primeiros episódios.

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Damon at 4:27 da tarde

sábado, setembro 04, 2010

O suplemento Ípsilon, do Público, traz um artigo acerca da publicação da primeira biografia do ditador salazar. Parece-me conveniente começar por reforçar a necessidade antiga de ter em livro o relato da vida do homem que conduziu os destinos de Portugal através do fascismo. Gostava de o ler, para aprender mais acerca de uma das figuras mais odiadas da minha memória – feita de livros, contos, histórias tristes e abafadas. Nasci depois do 25 de Abril, com uma noção muito clara do valor que a Liberdade tem; com uma admiração enorme por Salgueiro Maia e seus Capitães. Sem filiações partidárias, não escondo o fascínio que a mais bela revolução do mundo me provoca. Perco-me – livremente – nos poemas de Zeca Afonso, de Sérgio Godinho, no simbolismo kitsch de “E depois do Adeus”. E envergonho-me dos comentários publicados no site do Público, abaixo do artigo já referido, implorando o regresso de alguém que aceitou presentes de hitler – bastaria isso mas há tanto, tanto mais – e enviou para o Tarrafal homens que não concordavam com as suas ideias tacanhas. Como Português, envergonho-me. E acabadinho de regressar à Pátria, coisas destas fazem-me apetecer o exílio.

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Damon at 2:38 da tarde

domingo, agosto 29, 2010

Vi hoje o último episódio – atrasado – de uma série fenomenal, praticamente desconhecida em Portugal. Da BBC, claro, uma redundância das palavras “série” e “fenomenal”. Oito temporadas de puro drama. “Waking the Dead” deu algum tempo no canal BBC Prime, entretanto o AXN também transmitiu com pouca publicidade as aventuras do detective Peter Boyd. A história nunca foi nada de muito original – mais uma série de polícias? – mas dois factores contribuíram decisivamente para a magia destes 82 episódios: as prestações inesquecíveis de dois actores demasiado subvalorizados fora de Inglaterra, Trevor Eve e Sue Johnston. Tornei-me viciado na série a partir do dia em que, por acidente, me vi fechado no quarto de um hotel em Manchester, com uma intoxicação alimentar. O que me atraiu nessa altura foi a presença de uma cara conhecida nos dois episódios dessa história: Beatriz Batarda.

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Damon at 11:45 da tarde

sábado, agosto 28, 2010

Sempre que fecho os olhos

Às vezes,
Preciso de fechar os olhos
Para me entreter
Na teia dos sonhos,

Perder-me no rumo,
Brincar com as cordas
De uma guitarra velha,
Esquecida no sótão,
Ao lado de caixas de cartão
Cheias de brinquedos.

Há uma magia de nuvens
No meu céu.
Um momento.
Uma memória.
Uma selvagem esperança
De voltar ao princípio do mundo.

Há uma criança que brinca
No meu sótão.

Há uma criança que brinca
No meu jardim.
Que colhe flores
Sem as matar.

Tenho um armazém
De esboços
Na despensa
Da minha sala de estar.

Sou uma honestidade
De claro-escuro,
Sempre que fecho os olhos,
Sempre que uso os olhos
Para ver.

Há uma chávena
De chocolate quente
E um pratinho de biscoitos
Algures à minha espera.

Às vezes.
Sempre que fecho os olhos.

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Damon at 2:53 da tarde

quarta-feira, agosto 25, 2010

Alma Road

Foi num Agosto de sombras,
De chuva inglesa, miudinha e certeira,
Que pus pés ao caminho
E por entre a humidade,
Fiz o que me era suposto:
Caminhei.

Pela Alma Road,
Andei em linha recta,
Sem medo dos bichos da noite,
Das lojas de take away
Exaustas e assombradas
Ou dos condutores de olhar perdido
E lágrimas no pára-brisas.

Pouco antes de chegar
À Silver Lady, reparei
Que a Tentação caminhava ao meu lado,
Lembrando-me outras noites
Feitas de frio mas não de chuva,
De uma cidade de anjos
E não de uma rua de almas.

A Tentação,
Leve e sorridente,
Riu-se comigo do sinal de “no exit”
À porta do cemitério.
Convidou-me a tomar um copo
Num dos bares de Charminster.

Acenei-lhe que não
Como quem recusa responder
A um inquérito de rua.
Mantive os olhos no horizonte
E disse-lhe:
“Lamento desiludir-te.
Eu não bebo; choro.”

E continuei,
Como quem caminha à beira-Tejo,
Ao ritmo dos The Cure,
Em passos decididos
A seguir o relevo
Do passeio.
Até que o dia me levasse.

É que a outra Alma Road
Vai ter a Charminster;
Esta apenas vai.

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Damon at 11:59 da tarde

sexta-feira, agosto 20, 2010

canção do momento: underworld, "born slippy" (como no fim do Trainspotting)

Entreguei o último trabalho, o portfolio final do mestrado. De repente, o vazio. Das muitas queixas que descaradamente publico aqui, nenhuma delas tem a ver com os maravilhosos minutos que passei a criar histórias. Daí o vazio. Mas não estou triste. Apenas nostálgico de um curso que me fez ter duas certezas: a de que é mesmo isto que eu quero; a de que é tão difícil como parece ser bem-sucedido nesta área.

Encontrei colegas cordiais – fiquemos por aí, não há cá espaço para grandes amizades – e professores que são seres humanos, acima de tudo. John Foster é alguém com lugar garantido no meu livro de mestres, exemplos de inteligência, sabedoria e humanismo, em todos os sentidos que esta última palavra pode tomar. É o terceiro de uma lista liderada por uma Helena e por uma Cristina cuja amizade está mais que comprovada.

Na hora do balanço, não há lugar a grandes manifestações de emoção que ultrapassem o meramente profissional. Há excepções, uma delas já referida. Nesta hora, há que pensar com orgulho no resultado prático deste ano de trabalho árduo mas – quase – sempre muito agradável:

- 3 guiões para curtas-metragens;
- 3 guiões para muito curtas-metragens (2 produzidos);
- 4 peças de rádio (3 para crianças);
- 1 documentário de rádio;
- 1 peça de teatro (apresentada ao vivo);
- 1 guião para animação;
- 1 guião multimédia para crianças (como co-autor);
- muitos esboços para o futuro.

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Damon at 1:03 da tarde

quarta-feira, agosto 18, 2010

A distância entre nós

Há uma distância
Quase marítima entre nós.
Nenhum engenheiro se atreveria
A projectar uma ponte que nos unisse.

Uma estrada comprida,
Larga, veloz e confortável
Seria rapidamente engolida
Pelo pó e pela sua matéria-prima.

Tu és como os Balcãs,
Sempre desejosos de explodir,
Alastrando os braços teimosos
Ao resto do mundo.

Eu sou como a Noruega,
Rica e descomprometida,
Só que a minha riqueza
Cabe no bolso das calças
De uma criança de seis anos.

Partilhamos o tempo, pelo menos,
Um tempo, uma só oportunidade
Para mexer os lábios roídos
E apontar um ao outro
As armas que trazemos
Nas pontas gastas dos dedos.

Bendita ilusão,
Este vidro, um poço sem água,
Uma janela sem vento.

Apesar de todas as léguas,
Todos os metros e litros,
Posso sempre ver-te
Se me puser em frente ao espelho.

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Damon at 6:00 da tarde

domingo, agosto 15, 2010

Há duas noites, tive um sonho fortíssimo, tão intenso que acordei cansado, sem saber muito bem onde estava, com vontade de dormir mais umas oito horas. Sonhei que voava. E a memória é tão intensa que consigo visualizar claramente a viagem. De Portugal a Inglaterra, sobrevoei costas montanhosas, aldeias de pescadores, famílias felizes à beira-mar, casinhas com simpáticas senhoras à porta, castelos, igrejas e florestas. Na minha cabeça, passei por França e Holanda até entrar em Inglaterra por Plymouth, uma escolha pouco lógica. Como não era um tratado de matemática e sim um sonho, não admira que a lógica tenha sido um pouco negligenciada. Antes de sair de Portugal, ainda tive tempo de visitar um amigo no centro do Porto. Voando, pois claro. Eram três da manhã e ele via televisão. Eu disse-lhe para ele se ir deitar. Provavelmente na esperança de que também ele sonhasse que voava.

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Damon at 1:04 da tarde

segunda-feira, agosto 09, 2010

Nos intervalos do trabalho, só para descomprimir… Sem compromisso. Amanhã pode mudar.

TOP 15 vozes masculinas que mais me apetece ouvir:

1.Brett Anderson
2.Morrissey
3.Richard Hawley
4.Guy Garvey (Elbow)
5.Win Butler (Arcade Fire)
6.Neil Hannon (The Divine Comedy)
7.Matt Berninger (The National)
8.Tim Booth (James)
9.Jarvis Cocker
10.JP Simões
11.Thom Yorke
12.Damon Albarn (Blur, Gorillaz, The Good, The Bad and The Queen)
13.Dean Wareham
14.Alex Kapranos (Franz Ferdinand)
15.Camané

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Damon at 11:02 da tarde

sexta-feira, agosto 06, 2010

canção do momento: brett anderson, "to the winter"

Um saxofone pegajoso cola-se-me aos ouvidos. Dá boleia à voz de dor de dentes de Brett Anderson. Adoro esta voz e as lágrimas que me provoca. Adoro a aspereza dos poemas atrapalhados, amargos e atrapalhados, como quem precisa urgentemente de fazer sangrar uma veia. Vinte para a uma – e não uma e vinte como no relógio do costume – e não arranjo coragem para me ir deitar e ainda ao jantar jurava a mim próprio que ia para a cama cedo. Escondi as desistências num filme, um daqueles onde nunca ninguém está sozinho. A não ser o espectador. Esbocei entusiasmo na recta final da autobiografia de Ingmar Bergman. Li as últimas páginas, interiorizei e o entusiasmo já era. Fiz pesquisa para um possível romance, brincando aos escritores fiz de conta que a amargura serve para alguma coisa, neste caso, de inspiração. E não resisti a este apelo. Nesta altura, o saxofone deu lugar ao piano. Cada um no seu canto. Sozinhos. A voz do Brett Anderson continua dorida e dolorosa. Adoro a dor da voz dele. Uma pessoa habitua-se.

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Damon at 12:49 da manhã

quinta-feira, agosto 05, 2010

O Público noticiou ontem a vergonhosa posição de Portugal na tabela dos países com mais precariedade no emprego. Somos os terceiros, o que compensa a descida no ranking da FIFA…

O tema é quente. Para todos e para quem, em especial, se prepara para regressar a um país onde nunca viu um contrato. Expectativa pouco convincente: será que o facto de ter um mestrado vai resolver o problema? Mmmm…

A meu ver, há um problema de base, que tem a ver com a filosofia do patronato português - Estado incluído. A busca do lucro fácil, a ignorância de questões básicas como o relacionamento com os trabalhadores ou a motivação dos mesmos, fazem com que esta exploração corra mal para os dois lados. Tenho 30 anos, sou licenciado, tive vários empregos antes de deixar Portugal para tirar um mestrado e investir na vida. Nunca vi um contrato, apenas os malditos recibos verdes. Nunca - ou quase nunca - me senti motivado. Por onde passei, a maioria dos meus colegas estava na mesma situação. Como é que a empresa podia lucrar com isso? Falta de visão, é o que vos digo. Em Portugal, há muito "chico-esperto" e muito pouco "chico-inteligente".

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Damon at 3:06 da tarde

quarta-feira, agosto 04, 2010

Fascinante… Nunca mais consegui pronunciar esta palavra da mesma forma. Desde os tempos em que, em tardes bem menos arrastadas do que estas, lavava as mãos com esse sabonete líquido que a tua mãe comprava – Fascinante. Ainda hoje sorrio ao atribuir esse adjectivo a qualquer ser ou objecto. Verdadeiramente fascinante.

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Damon at 6:03 da tarde

sexta-feira, julho 30, 2010

O documentário “Uma na Bravo Outra na Ditadura”, do meu antigo professor (isto fá-lo parecer velho, mas não é…) André Valentim Almeida é uma agradável experiência. Quando comecei a vê-lo, percebi que se referia a uma geração criada ainda na década de 70. E refere. Mas o que eu não pensei era que eu – ingenuamente a encaminhar o meu ano de nascimento, 1980, para o futuro – tivesse tanto a ver com as pessoas entrevistadas, com os ambientes descritos e os hábitos que agora me parecem rituais de acasalamento dos dinossauros (‘tá bem, se calhar é “dinossáurios” mas não gosto do som). Revi-me num sem número de pormenores nostálgicos – sim, somos mesmo assim – e fealdades fabulosas e genuínas, pelo menos mais genuínas do que o tempo presente. Qual Facebook, qual carapuça!

O filme faz todo o sentido. O timing é perfeito, é a altura ideal para olhar para trás, particularmente para as décadas referidas. Numa época em que há tanta gente a ouvir La Roux sem saber quem foram os New Order, a usar malas retro, acessórios retro, a conduzir carros retro, faz todo o sentido. Acima de tudo, realça-se o sentido de humor, o cinismo com que a já referida nostalgia é tratada. Saudável. Muito saudável. E Pedro Ribeiro, acertaste na mouche (o meu Word quer que eu ponha “acertaste na mousse”, vá-se lá saber porquê), o Pisang Ambon fazia mesmo lembrar Tantum Verde.

Resta esperar que uma obra destas tenha espaço e tempo de divulgação.

Abaixo, está o trailer. Lá mesmo à beirinha, depois de clicarem, estará o filme, em duas partes.

trailer do documentário "Uma na Bravo Outra na Ditadura" from Andre Valentim Almeida on Vimeo.

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Damon at 6:45 da tarde

quarta-feira, julho 28, 2010

A Região Autónoma da Catalunha proibiu as touradas naquela província. Convenhamos que estes nossos vizinhos - não me atrevo a chamar-lhes "espanhóis" para não ferir susceptibilidades - têm coragem que chegue para os dois lados da fronteira. Atitude louvável e marcante. Esperemos que os ventos cheguem até zonas como Barrancos. E já agora à Assembleia da República.

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Damon at 6:47 da tarde

segunda-feira, julho 26, 2010



É assim. As pessoas, tal como os frascos de molho. O conselho do mundo dos adultos é: rejeitar se o botão central – onde quer que ele seja – estiver deprimido. No mundo dos adultos, as pessoas tristes são objectos indesejados, impróprios para consumo. Se entretanto saírem desse estado, então tudo bem, o que interessa é que riam e sobretudo façam rir. As pessoas no mundo dos adultos tal como os frascos de molho – baratos, práticos, descartáveis. Vou continuar a ver o “Where the wild things are” para aprender com as crianças, os monstros cabeçudos e o Spike Jonze que, no fundo, é uma mistura dos dois.

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Damon at 7:16 da tarde

domingo, julho 25, 2010

Há filmes de que se gosta. Depois, há filmes de que se gosta e que imediatamente ganham o direito a um pionés no mapa da compilação das nossas vidas. “(500) days of Summer” é um desses casos. Para além de estar extraordinariamente bem escrito; meticulosamente realizado; ter referências dignas de aplauso, em particular aos Smiths e aos Belle and Sebastian; contar com as muito credíveis prestações de Zooey Deschanel e de Joseph-Gordon Levitt, fez-me pensar. Demasiado, talvez. Comoveu-me. Demasiado, de certeza. Fez-me ter saudades de certos e determinados momentos – as incertas e indeterminadas coisas da vida. E pronto, ganhou direitos especiais na minha sala de cinema. Brilhante.

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Damon at 2:56 da tarde

sexta-feira, julho 23, 2010

Soube bem ter um amigo fisicamente presente neste quadradinho inglês. Foram dois dias sem grandes oportunidades para trabalhar, mas estranhamente preenchidos – estranhamente em relação ao habitual. As refeições deixaram momentaneamente de ser apenas comida. Durante um bocado, foram também conversa e companhia. Algo que muita gente não entende, este prazer em sair da solidão de vez em quando.

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Damon at 8:56 da tarde


A auto-biografia de Ingmar Bergman tem momentos que fazem lembrar os seus filmes: compridos, ligeiramente sonolentos, mas interessantes. Mas tem também relatos inesperados da vida do realizador. Fiquei a saber que Bergman tinha um tio que sofria de “urinomania”, ou seja, sentia prazer em urinar pelas pernas abaixo. Muitas vezes não resistia a fazê-lo em público. Aí está algo que eu não esperava deste livro.

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Damon at 8:55 da tarde

terça-feira, junho 29, 2010

Hoje de manhã, depois ouvir a canção “Benfica”, de Panda Bear, dos Animal Collective, foi-me sugerido pelo YouTube recordar, em resumo alargado com direito às pérolas de Gabriel Alves, o 3-6 do Benfica contra o Sporting, em Alvalade, em Maio de 94. Valeu a pena, não só pela memória de João Pinto a marcar golos com a camisola do Benfica, mas também – e principalmente – por uma frase que é pura poesia. E não. Não foi o Gabriel Alves. Foi do Vítor Correia, o bigode mais imparcial da arbitragem portuguesa – em oposição ao Martins dos Santos, cuja imparcialidade se resumia à escolha entre azul ou branco. Esta frase – ó ninfas do Tejo – merece ser título de romance promovido a priori à categoria de clássico:

“Carga perigosa nas axilas de Cadete.”

Se ele se refere à carga escondida nos sovacos do ex-ídolo do Celtic, isso já não sei. Mas lá que é bonito, é.

Mainada.

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Damon at 1:49 da tarde

segunda-feira, junho 28, 2010



Estes dois carros estão sempre parados à porta do meu prédio. E sempre com um lugar vago entre eles. Na opinião dos meus vizinhos, pertencem a alguém que raramente conduz; a meu ver, estão lá para me fazer pensar. Nomeadamente no que “SOU” e no que “FUY”, com “Y”, o que talvez ainda seja mais doloroso. Lembram-me que há um lugar vago entre o meu passado e o meu presente, a maioria das vezes à sombra. Normalmente atravesso a rua de forma a passar entre os dois, comparando-os. O facto de ter sido um Volkswagen Passat, robusto embora económico, e ser agora um Fiat Cinquecento, frágil mas prático, não me incomoda por aí além. O que me incomoda mais é o terceiro carro, um que dificilmente vou encontrar por aqui, o “SEREI”.

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Damon at 7:09 da tarde


Quando li a notícia no site d’ A Bola, parei para pensar, depois de inevitáveis sorrisos patetas.

VER AQUI

Já sabia que dificilmente o meu guarda-redes português preferido (e o mais detestado pelos seleccionadores nacionais – a par de Baía, no caso de Scolari) continuaria no meu clube. Afinal, todos os anos o Quim era dispensado, segundo a imprensa. Alguma vez acabariam por acertar. Pelo menos, foi para dar lugar – e que chorudo lugar – ao guarda-redes suplente do Atlético de Madrid. Assim, uma das poucas posições que não tinha ninguém a falar espanhol vê finalmente atingido esse objectivo – aparentemente uma prioridade para a direcção do Benfica.

Quanto ao George Lucas, bem, essa é que foi a surpresa. Impossibilitado de contratar o mesmo número de estrelas – que falem espanhol, claro – que os chamados “grandes”, o Sporting de Braga apostou tudo em levar para o Minho o realizador, produtor, etc. d’ A Guerra das Estrelas. Algo de que Quim também pode beneficiar, visto que no Benfica nunca fez guerra – e vejam no que resultou – e também nunca foi estrela, apesar de brilhar mais do que a maioria dos guarda-redes da liga.

Damon at 6:48 da tarde

domingo, junho 20, 2010

Ocasionalmente, oiço a música do quarto ao lado atravessando as paredes. Até aqui. A flauta que conta histórias de amor simples e solitário, mesmo quando tenta concentrar-se em “From Russia with love”. Mesmo agora, quando sei que o quarto ao lado está vazio. Continuo a ouvir a música, uma quebra luminosa na apatia do meu espaço.

Tal como continuo a ouvir a voz estridente que teima em chamar uma chinesa com uma familiaridade de nome: “Paaai! Paaaai!”. Mesmo depois de me dizerem que passaram semanas desde que Pai e a sua amiga estridente – e as suas mãos aparentemente leves que surgiam pesadas no confronto com a madeira da porta – regressaram ao outro lado do mundo.

Da mesma forma, como uma flauta, como um chamamento, como uma mão batendo à porta, continuo a ouvir os vizinhos de baixo perdendo-se num caminho que claramente percorreram já muitas vezes: o do prazer. Mesmo agora, que o apartamento onde viviam pede novos inquilinos.

São estes sons que me entretêm. Enquanto aguardo o nascer do sol.

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Damon at 4:05 da tarde

sexta-feira, junho 18, 2010



Sonhei com ele, esta noite. É verdade. Discutíamos a sua velha dama peninsular, o desejo de que acima de tudo fossemos ibéricos. Eu dizia-lhe o que efectivamente penso, que acima de tudo, não. Sou muito mais português do que ibérico. Felizmente, Saramago era muito mais escritor do que político. Eu admirava-lhe a perseverança das ideias mas, mais do que qualquer outra característica – se é que se lhe pode chamar assim – amava-lhe o génio das mais criativas correspondências. Ali. A partir do nada. Um novo romance representava uma oportunidade de me sentir mais próximo de um mundo viciante. Muitas vezes feio. Mas viciante. Os livros estão cá e hão-de estar. E isso é tudo.

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Damon at 5:15 da tarde

quinta-feira, junho 17, 2010

Está calor na terra da chuva...

Damon at 6:20 da tarde

quinta-feira, junho 10, 2010

O que ando a ouvir:



Descobri, por acaso, ao ouvir a NME Radio online, que há um senhor alemão que se inspira em mais do que o quotidiano para fazer música. Como acontece nestas situações, ouvi a canção, gostei do som, fui ver o título – um invulgar “If this hat is missing I have gone hunting” – e fui conquistado, ali, sem apelo nem agravo. A música dos Get Well Soon é a voz sofrida de Konstantin Gropper, a utilização consciente de diferentes instrumentos na altura certa, as letras inspiradas, a atmosfera consistentemente melancólica que rodeia todo o trabalho. “Vexations” é um grande álbum, novinho em folha. Antevejo muitas audições.



Outro homem-banda é o senhor Neil Hannon. Mas este para mim já não é novidade. Há muito que deixei de esperar outra coisa que não génio dos Divine Comedy. Um erro. Apesar de continuar a classificá-los adolescentemente como “a minha banda preferida”, o novíssimo álbum, “Bang goes the Knighthood” soa a desilusão. Lá dentro existem boas canções, mas não as habituais pérolas que me fazem fechar os olhos para me concentrar na música. Nem todos os álbuns podem ser “Fin de Siècle”. O século ainda agora começou…

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Damon at 11:25 da manhã

domingo, junho 06, 2010

Ontem, depois de jantar sozinho num restaurante cheio de gente, vim olhar o mar do ponto mais alto na marginal de Plymouth, junto ao farol. Conseguidos os segundos de solidão desejada na violenta imensidão da solidão indesejada, encostei-me ao mirante de pedra e contemplei. Mais para dentro do que para fora.

Um homem gordo, de cachimbo preso nos lábios, aproximou-se, transpirando o mesmo mal que me trouxe aqui. Que me leva a todo o lado. Cumprimentámo-nos. Em passadas pouco subtis, foi-se chegando. Olhando-me de alto a baixo como um detector de metais. Não sei se passava mais tempo a ver o mar ou a minha expressão de dúvida. Disse-me “está a ficar fresquinho. Ainda bem que trouxe a minha camisola”. Eu respondi com sorrisos e leves acenos. Olhava-me para a mochila, o que me levou a pôr a hipótese de estar perante mais do que um mero curioso. Foi só passados alguns pensamentos que me apercebi do perigo daquele homem de olhar rebaixado ser eu daqui a vinte anos.

Desejei-lhe uma boa noite e fui-me embora, contrariado.

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Damon at 11:09 da tarde

sábado, junho 05, 2010

Numa viagem de comboio entre Gunnislake e Plymouth, desejei vigorosamente estar lá fora, no crepúsculo indeciso.

Lá fora:
Casas de montanha com grandes varandas observadoras de vales e montes e das misteriosas – porque ainda não tive oportunidade de as investigar – chaminés da Cornualha.

Cá dentro:
O ruminar rítmico da máquina. Eu, com olhar absorvente apontado ao roteiro descrito no folheto. Um homem que discute os assuntos do dia consigo próprio.

Lá fora:
As chaminés, altas e magras, misteriosos tubos que se escondem entre as árvores e se distinguem pela ausência de folhas e flores. Um rio que tímido aparece.

Cá dentro:
Um grupo de jovens bem-parecidos, bem-vestidos e bêbados, discute a melhor maneira de usar o extintor da carruagem para o entretenimento dos passageiros.

Lá fora:
O rio cresce, deixando para trás essa timidez de recém-nascido. As casas desaparecem, cedendo à natureza todo o protagonismo.

Cá dentro:
Um segundo grupo de jovens, não tão bem-parecidos, definitivamente menos bem-vestidos, igualmente bêbados, junta-se à festa no outro extremo da carruagem.

Lá fora:
A beleza inigualável das pontes. Rio de ambos os lados, a ilusão de voar. Lá em baixo, as descontracção ajudada de uma aldeia conquistada à paisagem pelos hippies.

Cá dentro:
Um dos jovens menos bem-parecidos rouba o bilhete a um dos jovens bem-vestidos, mesmo a tempo de o mostrar ao revisor. Anuncia-se a guerra entre dois grupos de jovens igualmente ansiosos de adrenalina, igualmente bêbados.

Lá fora:
Dois rios que se acenam, sabendo que acabarão por se encontrar. Uma luz triste reflecte neles e inspira os poetas que andam de comboio. Uma árvore morta, caída na terra com ar descansado. O anúncio do fim. Da viagem.

Cá dentro:
Ânimos mais calmos. Pequenas provocações e trocas pouco precisas de olhares. O homem continua a discutir consigo próprio, sem conclusão à vista, ao contrário da estação de Plymouth, no horizonte próximo.

Lá fora:
A polícia aguarda os dois grupos de jovens. Cá dentro, na minha ingenuamente distorcida percepção, vão ser presos pelo crime de viagem mal-aproveitada, ofensa à paisagem pela indiferença demonstrada ao não olhar pela janela; lá fora, talvez sejam repreendidos por vandalismo e roubo de bilhetes. Que apenas lhes serviram para viajar de A para B. Quem é que anda de comboio para isso?...

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Damon at 9:01 da tarde

terça-feira, junho 01, 2010

canção do momento: albert hammond jr., “in transit”

Hoje, apeteceu-me ser pai. Não que amanhã já não queira. Não que isso nunca me tenha passado pela cabeça. Pelo contrário, há muito – eu diria desde que penso no assunto – que tenho esse desejo. Como um horizonte, não como uma realidade palpável e imediata. Mas hoje apeteceu-me ter nos braços uma criança – menino ou menina, pouco importa – que me observasse com o orgulho reflectido nos meus olhos e me chamasse “papá”, “pai”, “daddy”… Bah, estou certo de que consigo aguentar mais algum tempo.

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Damon at 5:51 da tarde

domingo, maio 30, 2010

Lost without you



As séries, ao contrário dos filmes, são muito mais do que instantâneos que se guardam na gaveta depois de vistos uma vez. Duas, três, quatro, que seja. Continuam a ser memórias isoladas. As séries tornam-se hábitos, rotinas como o café dos domingos de manhã ou a ida ao bar, à sexta à noite. Isso acontece mesmo que as vejamos de uma assentada e não esperando pela tradicional transmissão televisiva. Seis temporadas equivalem a muitas horas, acima de tudo a uma ilusão de cumplicidade extraordinária. Não fosse uma – desejável – racionalidade a relativizar as coisas, e o fim do Lost equivaleria a uma amarga despedida de muitos amigos chegados. Claro que entretanto outras séries tomarão o seu lugar e rapidamente me habituarei a “sair” com outras pessoas, noutros sítios, com outros temas de conversa.

Ao longo da série, houve – como é normal em qualquer um – personagens que fui sentindo mais próximas, por razões diferentes: pelo carácter, pela beleza, pela qualidade do actor ou da actriz. Por estes e por outros motivos dificilmente explicáveis sem a ajuda de um psicanalista, o Locke, o Sawyer, o Ben Linus, o Desmond e – claro – a Kate destacaram-se das outras, mesmo tendo em conta o inegável talento do Matthew Fox (Jack) ou do Naveen Andrews (Sayid). Aos actores que deram vida a todas estas personagens, espero vê-los em breve noutras paragens. Mesmo correndo o risco de os confundir com os passageiros do voo Oceanic 815 e consequentes conhecimentos.

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Damon at 6:04 da tarde

terça-feira, maio 25, 2010

canção do momento: radiohead, "nude"

Engraçado como, ao pôr a cabeça fora da janela, logo após o vento fazer esvoaçar as cortinas como as velas de um barco, senti simultaneamente o cheiro dos passeios solitários pelos relvados nocturnos do Algarve, nas férias eternamente sós da minha infância, com os meus pais, e o odor quente de uma tarde caminhando – solitário, muito solitário – ao lado do rio Tejo, ao ver partir em definitivo uma adolescência duvidosa.

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Damon at 10:16 da tarde


O tempo a mudar. Depois dos dias excepcionalmente quentes, aproximam-se as nuvens devoradoras de azul e de optimismos.

Hoje não caminhei até à praia. Para quebrar rotinas. Para fingir que a vida pode ser interessante. Até pode. Principalmente se eu fingir.

Fui à universidade despedir-me da actriz com quem trabalhei recentemente. Acabou o curso. Vai em busca de aventura. Eu também.

Vim para casa cumprir desejos subversivos de arroz doce e tentar escrever mais um pouco. Tenho um português que fugiu da sua terra em busca de final feliz à espera que eu lhe dê de comer. Não sou eu, entenda-se. É uma personagem.

Entre episódios de "Life on Mars" que me dão vontade de ouvir David Bowie e a vigia do tacho, vou sarrabiscando o monitor. De vez em quando, páro para ter saudades.

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Damon at 5:36 da tarde

quinta-feira, maio 13, 2010

East Avenue

Nesta avenida as árvores
Filtram-me o sol,
Impedem-me as insolações,
Dão ritmo ao meu vento

Que anda dentro de mim,
Revolto como um mar de oxigénio
Desejoso de se fazer à estrada
Que vai dar à praia.

Quero dar-me de beber
Ao mar, secar as pétalas
Que carrego há anos
Numa mala de papel pautado.

Quero dar-me.

As pétalas secas
Nas páginas feias dos meus sonhos
São ainda assim mais bonitas
Do que os meus olhos quando acordo.

Quero dá-las.

Esta avenida é longa
Como os meus braços estendidos,
Ninguém vem à porta
Para me receber.

Sigo com as árvores.

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Damon at 9:42 da tarde

domingo, maio 09, 2010

Nunca me hei-de esquecer do dia em que, doidos varridos de tanta emoção, corremos da Rotunda da Boavista à Foz atrás de um autocarro carregado de glória. Íamos acompanhados de milhares de pessoas que, como nós, queriam festejar e acima de tudo ser livres para festejar uma vitória desportiva cujo sabor já estava quase esquecido. Foi há cinco anos.

Também nunca me esquecerei do dia em que vi o Benfica ser campeão em Cardiff, País de Gales, acompanhado de um fantástico grupo de portugueses, numa casinha simpática, com uma gatinha adorável, numa emissão online de um canal francês. Esse dia foi hoje.

Viva o Benfica!

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Damon at 11:56 da tarde

segunda-feira, abril 12, 2010

A meu pedido, o tempo veio quente, tanto que até parece verão – o verão que não vai ser por cá, este ano. Não quero ser mal-agradecido mas este tempo põe-me nervoso, tal como o tempo – o outro – a passar, indicando-me o caminho de regresso ao meu pequeno quadrado inglês. E depois, estas noites cheias de estrelas… pedem passeios de mãos dadas, as minhas não chegam, os olhos cansados de invejar os outros. Não me queixo. Não, eu gosto disto. Mas o problema é saber de que forma poderia gostar muito mais.

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Damon at 1:13 da manhã

quarta-feira, março 31, 2010

canção do momento: carter usm, "the road to domestos, everytime a churchbell rings"

O regresso a casa. Pastel de nata, água das pedras, café como deve ser. Só é pena o tempo me parecer tão inglês. Onde está a minha primavera?

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Damon at 6:05 da tarde

segunda-feira, março 15, 2010

Dias como ontem. Quando, enrolado em tecido grosso, maquilhado e com pêlo colado à cara, passei horas a fazer de Chewbacca, a fingir que lutava contra um extraterrestre com poderes, para me deixar cair, derrotado, no chão verde que um mago da informática irá transformar em gelo. Ao fim do dia, estava exausto mas nem por isso insatisfeito. Ainda houve tempo para um desejado sushi em Charminster Road, e para um filme – “Capturing Mary” – ao sabor de um chocolate esquecido na mochila…

Dias como hoje. O suposto fim-de-semana condensado num só dia, porque de sábado e de domingo estes dois últimos tiveram muito pouco. Queria descansar, tirar 24 horas para compor o desenho, fazer as compras da semana, tratar da roupa… Mas quis a estranha e despropositada mente humana que uma névoa deprimida caísse sobre mim. Fiz as compras, só não tratei da roupa por falta de trocos, mas não descansei. Dentro de mim, uma angústia empurrava-me para o fundo de um dia falhado.

Acabei a ouvir Rodrigo Leão e a tentar ler sem conseguir, porque uma onda de pânico me sobrevoou a cabeça o tempo todo.

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Damon at 6:34 da tarde

terça-feira, março 09, 2010

Ando a ler um livro admirável, que me foi apresentado pelo poeta, escritor, conversador nato, Sean Street. Publico aqui estes excertos para ver se “a gente” se levanta. Debaixo da decadência evidente, há um país maravilhoso.

“When I was a kid I made myself sick on marmelada, Portuguese quince jelly. (…) Once I sneaked a gulp of port too. I thought I’d die; it tasted like bad medicine. My tastes have changed, but ever after that I wanted perversely to be Portuguese.”

“Of all the European powers they took the world in their hands the earliest, and hung onto it the longest.”

“I’d like to find out, to journey in a country which adds up to somewhere much bigger than the sum of its parts.”

Paul Hyland, “Backwards out of the big world”, Flamingo.

“Hyland’s masterly prose defines perfectly an instant in the evolution of one of Europe’s most fascinating states”

Guardian Books of the Year.

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Damon at 4:21 da tarde

sexta-feira, março 05, 2010

canção do momento: Banjo or Freakout, “Left it alone”

Sentei-me num banco virado para o campo de cricket. Tentei ler mas senti-me facilmente distraído pelo miúdo cuja mãe tentava ensinar a andar de bicicleta. Há algo de mítico nesse processo. Dizem que nunca se desaprende. A criança sorria descaradamente de cada vez que pedalava mais do que uns metros sem cair. Eu sorria com ela. Cinco minutos depois, chegou outro aprendiz do mesmo ofício. Mas este era diferente. Adolescente quase adulto. E é curioso que, mesmo com as quedas de ambos, uma diferença saltava à vista: tudo era tão natural na forma como o miúdo pedalava, como se a bicicleta fosse cúmplice da aprendizagem; ao contrário, o adolescente parecia alguém perdido em frente a um electrodoméstico complicado. Pensei: “bem, as bicicletas têm realmente mais que se lhes diga do que simples metal com duas rodas”. A literatura precisa de mais histórias de bicicletas.

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Damon at 6:03 da tarde

terça-feira, março 02, 2010

canção do momento: matinée, "a seguir neste cinema"

Descobri o rio. Lá estava, atrasado e preguiçoso, arrastando pequenos ramos como souvenirs, ao longo do caminho. Alimentando-se de porções de lama dissolvida. Vi-o, quase escondido atrás do movimento da auto-estrada. Os meus sapatos, cobertos de uma estranha sopa de terra. Mas senti-me privilegiado. Tal como o corajoso cão de três patas e o homem de olhar viajante que o acompanhava.

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Damon at 9:34 da tarde

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

canção do momento: madredeus, "vaca de fogo"

Entre os lençóis

Entre os lençóis,
Temo o nevoeiro,
Temo o tempo que leva
A que a noite passe
E chegue o sol
E depois o sol não chega,
Apenas a chuva
E essa traz na mala
As lágrimas de mais alguém.

E eu não quero as lágrimas
De mais ninguém,
Tenho as minhas
E as de todas as personagens
Que inventei em noites como esta
Numa tela que parece branca
Mas é uma cova invertida,
Mais funda do que o poço da morte,
Mais feia do que uma beldade com más intenções.

Entre os lençóis,
Entre os lenços
Que me afagam a testa suada
Mas não impedem os pés
De tremer ao tocar o ar frio,
É assim que me deixo,
Desta forma indigna que me abandono
Aos cuidados da mãe nocturna.

Temo o regresso
De uma alma desejada
Porque temo que o seu peso
Quebre o vaso da minha eloquência
(Alguém escreveu “FRÁGIL” na embalagem,
Fui eu)
E eu não quero juntar pedaços infinitos
Às gavetas cheias do pó que, soprado,
Me confunde a luz e as horas.

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Damon at 8:48 da tarde

terça-feira, fevereiro 16, 2010

canção do momento: lily allen, "chinese"

Um passeio à beira-mar. Pequeno-almoço tardio na esplanada. Torradas. Sumo de laranja. Conversa. Muita. Partilhar uma história ou duas. Regresso a casa. Não muito longe. Ver um filme. Pensar no jantar. Fazer o jantar. Ouvir música. Tudo tão fácil, do lado de lá dos sonhos.

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Damon at 7:13 da tarde

terça-feira, fevereiro 09, 2010

canção do momento: claude debussy, "clair de lune"

Nunca tinha sentido a neve no meu cabelo. Hoje de tarde, no meu caminho solitário para a universidade, apercebi-me de que não chovia; aquilo eram pequenos pedaços de céu que me refrescavam o rosto. Quando voltava para casa, ainda nevava. Na noite feita, o contraste entre o céu escuro e aqueles farrapos brancos que o rasgavam tornava-se ainda mais óbvio. Caminhava ao lado de uma colega, bem mais habituada ao gelado fenómeno, na longínqua Rússia. Nunca me senti tão sozinho como naquele momento, entre a multidão de flocos.

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Damon at 12:30 da manhã

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Esta noite, dormi mal. Acordei cansado. Tudo porque até os sonhos são capazes de provocar cansaço. Não sei se foi por ter tido uma aula acerca de Realidades Alternativas no cinema, ontem. Provavelmente, não. Não é a primeira (nem a décima) vez que tenho sonhos destes. Desta feita, estava eu na minha casa – a original, onde sempre vivi, não esta – e entrou-nos um pequeno, simpático, macaquinho saltitão pela cozinha dentro. Tínhamos muitos cães – como temos – mas no sonho alguns eram ainda cachorrinhos. Apesar das dificuldades, adoptei o pequeno macaco, que rapidamente se habituou ao convívio, partilhando a hora das refeições connosco, na sala. Pouco tempo depois, desapareceu. Foi aí que o sonho me pôs exausto. Dei voltas e voltas à casa e à cama em busca do pequeno primata. Receei sinceramente pela sua vida, que algum dos cães o tivesse apanhado, que tivesse fugido e sido atropelado, etc. Não o encontrei. Ainda tive uma discussão com o meu pai que afirmava que o macaco lhe tinha comido as sardinhas, “ainda por cima”. Bom, para além do cómico surreal da situação – pois, macacos a comer sardinhas – pergunto-me o que simboliza na vida real este macaquinho…

Do sítio onde coloquei o cadeirão, no estúdio onde vivo, consigo ver o céu. Pela posição rebaixada em que me encontro, se olhar lá para fora, vejo apenas o azul, o branco, o cinzento, ocasionalmente um pássaro, um avião ou um helicóptero. Isso quer dizer que, quando me sento no cadeirão e olho lá para fora, não vendo os prédios, as pessoas, as ruas, posso-me imaginar em qualquer sítio do mundo. Gosto particularmente de o fazer ao som de música. Hoje são os Guillemots.

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Damon at 4:27 da tarde

domingo, janeiro 31, 2010

Sete anos, hoje. Nada mau para o blog de alguém como eu.

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Damon at 7:12 da tarde

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Apetecia-me passear pela Foz, sentir na cara o frio transportando a brisa do mar. Apetecia-me um café e uma água das pedras, depois do jantar. E um jantar com família ou amigos. E um pastel de nata à sobremesa. Conduzir o meu carro. Regressar e ouvir os meus cães. E a minha gata. Apetecia-me ir até casa, hoje.

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Damon at 7:20 da tarde

quinta-feira, janeiro 28, 2010

canção do momento: arcade fire, "i'm sleeping in a submarine"

Corpo Luminoso

A luz veio.
Da esquerda, liberal e libertina,
Rasgou a tela mas não te magoou,
A luz reconheceu-te.

Bateu-te no rosto.
Delicadamente.
Deliciadamente.

Sobreviveu no teu peito,
Onde vive toda a forma,
Todo o gesto delicado,
Ponto de partida para
Todas as viagens impossíveis.

Absorveste-a.
A luz fundiu-se
Na tua pele solar,
Ficou por lá, passeando
Entre a multidão
De sombras.

Quando te viraste,
Protegendo os olhos do fogo,
Sorrias.

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Damon at 4:07 da tarde

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Perdi uma amiga. Que interessa que não fosse pessoa? Partilhei com ela o meu leito, acarinhou-me, brincámos juntos, fez-me sorrir muitas vezes. Ralhei com ela, perdoei-lhe asneiras inocentes, o vozeirão enganador. Ainda teve o privilégio de conviver com a minha avó. Fez-lhe companhia em horas de sofrimento. Tal como a mim e aos meus pais. Sempre receei que isto acontecesse – estar fora e não poder acompanhar um destes meus amigos nos seus últimos dias. A Diana já estava doente, a idade pesava, o sofrimento acabou, pelo menos. Mas isso não apaga a dor, incompreendida por muitos, de perder uma amiga que, por acaso, era uma cadela. Descansa em paz, Dianinha.

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Damon at 10:41 da tarde

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Uma pausa no trabalho para escrever sobre futebol. Ou melhor, não é bem sobre futebol. É mais sobre a atmosfera circense que envolve a modalidade, em Portugal. Diz o ditado que “quem está de fora racha lenha”, pois eu diria, neste momento, que “quem está de fora queima-se mais facilmente”. Para nós, que estamos longe de um país que, apesar de tudo é o nosso; que, apesar de tudo, adoramos; que, apesar de termos sempre que acrescentar “apesar de tudo”, queremos ver a funcionar… Bom, recebemos as notícias, sentimo-las cá dentro, e partimos para imediatas comparações com o local onde estamos. Não que Inglaterra seja perfeita, muito mas mesmo muito longe disso, mas há duas situações que… valha-nos Deus… só nesse país:

- O historial de Sá Pinto como jogador não deixa grande margem para dúvidas. Quando me apercebi de que era ele o substituto do Pedro Barbosa como dirigente do Sporting, esfreguei as mãos à espera do filme à Jackie Chang. Só tive que esperar dois meses. O diálogo entre o emotivo jogador e o pseudo-português Liedson, a acreditar n’ A Bola, é absolutamente ridículo. Lamentável que um dirigente jovem não tenha um pouco mais de sangue frio.

- As gravações dos telefonemas de Pinto da Costa foram postas no YouTube. Atenção, que não são imitações à Contra-Informação. Dei-me ao trabalho de ouvir algumas dessas obras-primas e devo dizer que a riqueza visual da linguagem é notável. Ainda que fosse a falar de feijões ou de canalizações, a baixeza daqueles discursos devia ser suficiente para pôr aquelas pessoas a ver o sol aos quadradinhos. Deprimente. Cómico mas deprimente.

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Damon at 5:00 da tarde

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Estou viciado numa das canções mais tristes que alguma vez ouvi. Ainda por cima uma versão. Ainda por cima nunca ouvi o original. Custa-me a crer mas dizem-me que “Hurt”, a dorida confissão do grandioso Johnny Cash é, na verdade, dos Nine Inch Nails. Aquela voz que amou a June e que nunca esteve presa, ainda que o seu corpo estivesse. Aquele tremor de terra, aquele poço sem fim. Que interpretação fabulosa. “What have I become, my sweetest friend?”

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Damon at 10:17 da tarde

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Twiction = Twitter + Fiction

Quem me conhece sabe bem que sou uma mistura de ET com velho dos Marretas no que diz respeito às chamadas “redes sociais”. Para mim, coisas como o Facebook são instrumentos de ilusão, oportunidades de exibicionismo, ferramentas banais, por muito que tenham evoluído desde o tempo do fútil Hi5. Por isso, quando soube que ia ter uma aula de escrita para o Twitter, não sabia bem como reagir. Fui, por curiosidade, sem grande expectativa. A verdade é que… continuo mais ou menos na mesma. Alguém mencionou a descoberta de há alguns anos, quando tudo indicava que os livros iam começar a ser escritos por SMS… Claro… Com o Twitter, parece-me mais ou menos a mesma coisa. Até pode ser que resulte, mas não me imagino minimamente interessado pelo fenómeno.

De qualquer forma, foi-nos sugerido escrever uma história ou adaptar um livro. Resolvi pegar num argumento escrito há dias, simples e curto, baseado num conto escrito em mirandês. Para quem se quiser dar ao trabalho de ler o resultado…:

THE BALL

Não se esqueçam que têm de ler de baixo para cima...

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Damon at 7:39 da tarde

sábado, janeiro 16, 2010

Há já algum tempo que espreitava este café discreto, com aspecto de negócio familiar, numa rua que desagua naquela onde todos os dias passo. Admito que o que me impedira, até agora, de ceder à tentação e entrar, fora a diferença de alguns pence para o preço do café (“espresso, please”) nos outros sítios, já por si demasiado caro. Tenho andado a ceder a tentações (ontem foi o pequeno-almoço tardio à beira-mar) porque há momentos em que é preciso. Desde que não nos distraiamos demasiado…

Entrei. Pasmei perante a figura encantadora, cheia de meninice, que me perguntou de imediato “Eat in? Take out?”. Empregada? Filha do patrão? Não sei mas, como é óbvio (um óbvio tradicional), tropecei nas palavras.

Sentei-me. Recuperei o fôlego enquanto procurava reflexos nos vidros. Foi-me servido o café (“espresso”) por um senhor de bigode. “Pena”, pensei. Mas a sua simpatia deixou-me a pensar que talvez não fosse assim tão mau ser atendido por um barrigudo careca. “De onde és?”, perguntou. “Portugal.” “Oh… Mas tens sangue árabe! Sê bem-vindo!” Sorri. Sim, é bastante provável que o tenha, um sangue que recua séculos no tempo. Podia ter-lhe dito “No meu país, por questões que nada têm a ver com a cor da pele, há quem me chame ‘mouro’…” Mas calei-me.

O café (“espresso”) era muito bom. Acho que vou ceder a esta tentação mas regularmente.

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Damon at 3:45 da tarde

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Os indianos andam a entreter o mundo com as suas histórias de miséria, vendendo-as trajadas de cómicos contos, peripécias engraçadas que até parecem não ultrapassar a fantasia. Não há aqui crítica. Sou um fã assumido e perdido no tempo de Danny Boyle, gosto muito do seu “Slumdog Millionaire”, como já gostava do “Millions”, do “28 days later” e A-D-O-R-A-V-A o “Trainspotting”. Ando a ler “O Tigre Branco”, de Aravind Adiga, na mesma onda. Estou a gostar.
O meu pensamento não vai tanto na direcção da Índia e de toda a sua rica história. Tudo isto faz-me pensar no enorme potencial cómico que Portugal tem para entreter o resto do mundo. Escritores e argumentistas do nosso país, olhem à volta, para a forma de conduzir dos portugueses, para a forma como nos atendemos e desentendemos em lojas e cafés, para a assiduidade de políticos e saltimbancos no nosso parlamento, para recibos verdes e cunhas – ai as cunhas – e burrocracias e para a forma como estacionamos no lugar do deficiente e nos estamos a (…) para isso, para os autarcas pegados de estaca e para os presidentes de clubes de futebol, etc. etc. etc. Não nos falta material. Somos um saco azul carregadinho de presentes para a inspiração literária e cinematográfica dos nossos criativos.

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Damon at 5:32 da tarde

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Mais um para a colecção de blogues do pior (mais preguiçoso) blogger que conheço: eu. Este foi à pressão, para um trabalho académico. Fala de música e cinema (em inglês, porque teve que ser assim), tema que me diz muito. Não sei se continuará a dizer no fim do trabalho, porque escrever “academicamente” põe-me os cabelos em pé e dá-me arrepios. Prezo demasiado a escrita livre para gostar destes textos de laboratório que, a meu ver, não têm outra utilidade a não ser complicar-nos a vida. De qualquer forma, como diz Badá Badá Badá, na sua obra “Blá Blá Blá”, publicada em 2045, pela editora Piu Piu, “cá vai”: Staring at the Sound.

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Damon at 4:33 da tarde

terça-feira, dezembro 22, 2009

Sou um blogger preguiçoso. Não consigo manter-me atento à blogosfera como tantos dos meus colegas e amigos. De vez em quando, descubro um lugar que mexe comigo, porque vai muito além da matéria teclada. Esta (re)descoberta vem carregada de vida. Extremamente interessante.

http://saritamoreira.blogspot.com/

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Damon at 6:01 da tarde

domingo, novembro 29, 2009

Preciso urgentemente da voz da Audrey Hepburn a cantar a “Moonriver”.

Para que o dia me pareça menos grave, apesar de triste. Menos cinzento, apesar da ausência de cor para lá dos cortinados azuis e dos tijolos corados das casas clonadas.

Para que um horizonte de fechar os olhos em êxtase me conduza para lá do parque de estacionamento de um supermercado que, apesar de caro, não tem qualquer tipo de brilho.

Oiço a versão do Morrissey, mas o que eu queria mesmo era a voz da Audrey.

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Damon at 2:41 da tarde

sexta-feira, novembro 27, 2009

Canção do momento: morrissey, “christian dior”

Chuva. Em cima do piano. Demasiada luz. Apetece-me um serão aquecido pela obscuridade das velas. Uma presença. Cá dentro. Uma ausência, lá fora, preenchendo os espaços entre os aguaceiros. Chuva silenciosa. Em cima do piano. As teclas acompanhando o ritmo dos meus passos. Cá dentro.

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Damon at 9:24 da tarde

quarta-feira, novembro 11, 2009

Robert Enke: um grande guarda-redes, um grande homem



Há surpresas destas. Más, muito más. Quando a minha mãe, ao telefone, me deu a notícia da morte macabra do ex-guarda-redes do Benfica, fiquei sinceramente emocionado. Não porque o admirava como jogador, que chegou com a difícil tarefa de substituir o insubstituível Michel Preud’homme, e logo me convenceu, apesar da juventude. Sim porque sei que era um óptimo exemplar da espécie humana, daqueles raros exemplos de generosidade, principalmente num tema que me toca em particular: os animais vítimas de abandono. Na altura em que jogava no Benfica, Enke abriu um abrigo para animais abandonados, em Lisboa. Foi disso que ouvi falar, nunca de excentricidades malucas ou arrogância, como acontece regularmente com jogadores de futebol iludidos pela fama e pelo dinheiro. Depois de perder uma filha, Enke não aguentou a pressão, mesmo com a possibilidade bastante evidente de representar a sua selecção no Mundial do próximo ano. O comboio que o colheu levou com ele uma vida de respeito. Espero que o meu clube não me desiluda e lhe faça a devida homenagem.

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Damon at 9:39 da tarde

sábado, novembro 07, 2009

Andei com uma canção na cabeça durante uns tempos. Chamava-se "I've underestimated my charm again". Finalmente, resolvi ouvir o álbum todo (Partie Traumatic) e posso dizer que vou andar a ouvir os Black Kids durante uns tempos... Muito bons.

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Damon at 7:11 da tarde

terça-feira, novembro 03, 2009

Hoje, ao fim da tarde, vai ser exibido um filme na sala de cinema da Media School da Universidade de Bournemouth. Os espectadores presentes vão passar a conhecê-lo como “Sensitive Men”. Terá legendas em inglês. Nessa altura, vou estar a (re)ver as pessoas que me ajudaram há 5 anos, mais do que as personagens. Este post é para elas, para um tempo de grande dedicação que nunca esquecerei. Para aquelas que continuam bem presentes e para aquelas que, infelizmente, por um ou outro motivo, se distanciaram. “Havemos de voltar a voar”, estou certo.

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Damon at 12:52 da tarde

segunda-feira, novembro 02, 2009

canção do momento: sneaker pimps, "precious"

É pena que as necessidades da mente não se ajustem aos relógios. E à distância. Neste preciso momento, apeteceu-me conversar com alguém que me conheça. Senti uma ligeira asfixia e quis abrir a janela e gritar. Mas em português. Nada de grave.

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Damon at 2:33 da tarde

terça-feira, outubro 27, 2009

A partir de hoje, podem ler-me em inglês, em Thinking Big, Writing Small, um projecto do meu colega Mike Garley. Somos sete escritores, cada um com o seu dia da semana - onde é que eu já vi isto?... - e temos um limite de 99 palavras por post. Publiquei hoje o meu primeiro texto, um poema, para ser mais exacto. Para ser ainda mais exacto, a tradução de um poema escrito há uns anos e que alguns reconhecerão...

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Damon at 12:35 da tarde

segunda-feira, outubro 26, 2009

Saí de casa e fiz o que há muito pretendia fazer. Caminhei até à loja que ajuda animais feridos ou abandonados. Chamam-lhes “Charity Shops” aqui, e há imensas nesta rua. Quem me conhece sabe o quanto sou sensível a todas as questões que empreguem a palavra “solidariedade”. Escolhi os animais porque os adoro, porque são seres inocentes, sem culpa de estarem nas mãos de uma espécie tantas vezes primitiva – no mau sentido. Estou habituado, neste país onde tudo é caro, a ficar de consciência pesada de cada vez que gasto dinheiro. Neste caso, entrei, comprei várias coisas bonitas e saí a sentir-me bem comigo próprio. É uma sensação que todos deviam experimentar de vez em quando – gastar sem desperdiçar.

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Damon at 4:50 da tarde


canção do momento: muse, "supermassive black hole"

Há notícias que nos atingem como o arrepio do wasabi num restaurante japonês. Depois de breves instantes de incómodo, lá nos recompomos. É mais ou menos isso. Costumo dizer que não gosto de surpresas, talvez por não me sentir confortável no momento do susto. Como todos, aliás. E quando não a percebo, a notícia torna-se corrosiva. A distância aumenta o suspense. Estou aparvalhado. Mas hei-de concluir que tudo não passa do mais natural dos instintos.

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Damon at 11:32 da manhã

sábado, outubro 24, 2009

canção do momento: Czars, "Goodbye"

Acabei hoje de ler o livro de todas as polémicas em Portugal. Confesso que não me satisfez, não pelas ditas questões que têm aparentemente feito disparar as vendas do romance, mas pela escrita apressada que se sente a partir de certa página. Gosto muito do escritor Saramago, mesmo estando muito longe do político Saramago e a alguma distância do cidadão Saramago. Esperava mais de “Caim”. E compreendo que possa chocar os mais comprometidos com o alvo das críticas. A mim não me choca.

Estava frio na praia. O que não impediu a presença de inúmeras famílias nas suas areias. E cães, muitos cães simpáticos. Vi mesmo algumas adolescentes despidas de preconceitos nadando em roupa interior naquele mar gelado. Imagem bonita. Agora, estou constipado… Outra vez.

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Damon at 6:57 da tarde

sexta-feira, outubro 02, 2009

canção do momento: elbow, "powder blue"

Trabalho intenso. Preocupações. Primeiras desilusões. Saudades – mais ninguém as tem. Assim se pode dizer que têm sido os últimos dias. Como a curva trepa pelo gráfico acima para logo a seguir cair numa cova escura, aí como aqui. Gente difícil. Como eu. Talvez não como eu, mas difícil, de qualquer forma. Eu, sozinho entre a multidão. Estrangeiro reforçado pelas minhas ideias: não gosto de beber, não fumo, não gosto do facebook, oiço música alternativa; o pior de tudo – por vezes sinto-me triste.

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Damon at 1:30 da tarde

terça-feira, setembro 29, 2009

Começo a pensar que não estou em Inglaterra. Segunda semana aqui e só choveu durante trinta minutos, no máximo, e mesmo assim daquela chuvinha minúscula que quase não se sente.

Hoje é o primeiro dia. Mais um primeiro dia que me faz pensar em Sérgio Godinho e na sua canção profética que eu adoro. Daqui a pouco vou encontrar uma universidade a abarrotar de nacionalidades e intenções. Isto tudo com as minhas bem presentes. As intenções, quero dizer.

Sonhei com o meu antigo emprego. Passo as noites em Portugal, entre os meus cães, sítios que quis trazer comigo e, pelos vistos, trabalhos de outra vida.

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Damon at 10:48 da manhã

quarta-feira, setembro 23, 2009

canção do momento: Franz Ferdinand, "No You Girls"

E ao quinto dia, choveu, acrescentando a nitidez à ideia de que estamos mesmo em Inglaterra. “E estamos”, respondeu em coro o grupo por vezes designado “Nações Unidas”. Sim, também há ingleses por aqui mas, para já, o sítio parece ter sido colonizado por nós, criaturas multicoloridas, com sotaques mais ou menos estranhos, mais ou menos estranhamente familiares. Suponho que o núcleo duro do grupinho que teve a sorte – nada de ironia, é verdade – de se encontrar na espécie de quintal desta residência é composto por: um português que tem que explicar porque tem sotaque inglês; um sul-africano; uma austro-húngara de origem alemã que tem sotaque americano; uma grega; uma francesa; um indiano da Índia; um indiano de outro planeta, que me faz sorridentemente lembrar um amigo açoreano de outro planeta também :-) Cinco dias depois, começo seriamente a desejar que não nos desencontremos quando as aulas começarem.

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Damon at 10:47 da manhã

domingo, setembro 20, 2009

Admiro imenso as pessoas que se fazem ao caminho para atravessar meio mundo e depois chegam aqui com um sorriso nos lábios e, aparentemente, sem grandes lamentos. Do pequeno grupo que encontrei para já, sou o mais velho e, tirando a francesa de vinte anos, aquele que terá mais facilidade em ir a casa mais ou menos regularmente. Mas a verdade é que sou eu quem - mais uma vez, aparentemente - está a sofrer mais com a mudança. E estou. Não vale a pena negar, até porque não acredito nessas coisas de esconder as fraquezas para parecer mais duro. Todos temos fragilidades. Talvez esta seja a minha. Ou uma das minhas. Estou aqui há dois dias, vou a casa em Outubro e parece que o mundo me caiu em cima.

Bournemouth, Inglaterra.

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Damon at 10:11 da manhã

sexta-feira, setembro 04, 2009

Que o João Fernando Ramos é um pivô medíocre, isso não é novidade, mas quando o apresentador do Jornal da Tarde da RTP1 resolve dar uma notícia como a da realização de mais uma tourada de morte em barrancos afirmando, com o seu desajustado sorriso nos lábios, “há contestação mas os aficionados não estão nada preocupados”, consegue roçar o insulto. A televisão pública continua, aliás, a pactuar de forma - direi mesmo - desonesta com a organização de eventos sanguinários, que em nada prestigiam um suposto serviço público cujo primordial objectivo deveria ser o de civilizar as pessoas. No entanto, bastaria ver cinco minutos dos estupidificantes programas da manhã – e nesse caso, não que os dos outros canais sejam melhores – para perceber que “serviço público” é coisa de glossário do tempo em que ainda se pediam “cimbalinos” e se dizia “por obséquio”.

A suspensão do Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes é, acima de todas as suspeitas que possam existir, uma bênção para os amantes do jornalismo. A TVI aliás não faz jornalismo, apenas se limita a prolongar o longuíssimo departamento de ficção. Olha, porque não pôr a Mariana Monteiro a apresentar o Jornal Nacional? O conteúdo era o mesmo e o espaço “noticioso” ganhava contornos bem mais… aprazíveis…

Gosto muito de bebés. E normalmente os bebés gostam de mim, tenho que admitir. Mas também devo confessar que ultimamente tenho receio de olhar para eles e sorrir. Isto anda tudo viciado e, com ou sem razão, há pais que já nem isso toleram. O que está mal é que isso geralmente só se aplica quando somos nós, homens, a tomar a iniciativa. Pergunto eu: não há mulheres mal-intencionadas?

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Damon at 12:20 da manhã

quarta-feira, agosto 26, 2009

Está uma bela noite. Talvez para nos compensar do Agosto a armar-se em frio. Sim, senhora, as estrelas a pintar o céu, até aquele cheiro a fumo que, ao ritmo do ladrar dos cães, leva a crer que alguém pega fogo a uma floresta. Estar-se-ia bem na esplanada, não fosse a inacreditável pontaria de quem achou que a Romântica FM seria a melhor opção sonora para uma noite de fim de Verão – ou para qualquer outra, digo eu. E pronto, é isso. Uma bela noite…

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Damon at 12:21 da manhã

terça-feira, agosto 25, 2009

Chega uma altura em que convém perceber a virtude do silêncio – diz-nos coisas bem concretas, como por exemplo, que é tempo de calar e andar, sem necessariamente esquecer, mas desvalorizando as vicissitudes... Não me aconteceu muitas vezes tentar contactar alguém há algum tempo calado e essa pessoa ignorar o meu apelo, permanecendo muda. Aconteceu-me as vezes suficientes para perceber que os interesses mudam ou talvez nunca lá tenham estado, que a certa altura ficamos bem é nas memórias e não no presente. Não deixo de ter pena de cada vez que me mandam calar em silêncio.

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Damon at 1:24 da manhã

domingo, agosto 16, 2009

Sem querer fazer deste espaço um obituário permanente, não posso deixar de notar que, depois de Sir Bobby Robson, mais um admirável senhor de enorme sorriso nos deixou – cedo demais como sempre seria. Raúl Solnado foi mestre do riso mas foi acima de tudo um grande homem com um GRANDE actor dentro dele.

O Benfica entrou no campeonato com as pernas tortas. Não que tenha jogado mal. Não que tenha jogado muito bem. Não vale a pena arranjar desculpas, mas é um facto que os jogadores do Marítimo são extremamente frágeis, vem uma brisa e desequilibram-se. Isto ainda agora começa e já promete, principalmente grandes anti-jogos de futebol sem brilho.

AJUDEM A UNIÃO ZOÓFILA. Em boa hora reparei nestes anúncios em plena Lisboa, logo gravei o número no meu telemóvel e agora posso – e podemos todos – aos bocadinhos – por uns míseros 60 cêntimos dar uma refeição a um animal abandonado. Não custa – quase – nada.
760 501 015

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Damon at 11:35 da tarde

sábado, agosto 01, 2009



Deixou-nos uma das minhas personalidades preferidas, não só no desporto, como a todos os níveis. Bobby Robson, que em Portugal nunca treinou o meu clube, foi sempre um exemplo de dignidade e simpatia. Cheguei a quase passar por portista para chegar a ele. Tinha o desejo de o conhecer, o meu pai negociava regularmente com um portista ferrenho – tinha a fábrica pintada de azul e branco –, homem de alguma influência junto do papado, na altura em que Bobby Robson treinava o Fêquêpê. Nunca conseguiria nada se denunciasse o meu benfiquismo – horror, tragédia, infâmia – por isso, preparava-me para entrar camuflado no estádio das Antas e ser apresentado ao meu ídolo quando o Barcelona se adiantou e o levou para Camp Nou. Diz quem o conhecia que, para além da força, do bom humor, da educação – que exibiu até ao último momento –, tinha uma enorme sensibilidade para com os menos afortunados. Eu diria, recorrendo à vulgaridade das frases feitas, que já não se fazem homens assim. Farewell, Sir Bobby!

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Damon at 2:27 da manhã

quarta-feira, julho 29, 2009

Às vezes, é preciso bater o pé, desde que não se bata a bota. Também pode ser necessário enfiar a carapuça, desde que não se enfie o barrete.

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Damon at 12:35 da tarde

segunda-feira, julho 27, 2009

Hoje, apeteceu-me bater em alguém. Nada de muito extraordinário, embora também não se pense que sou do género violento. Apeteceu-me bater em alguém incerto, sem vinganças pessoais ou qualquer tipo de discriminação. Caminhava, junto ao mar, estava vento e os banhistas eram passados pelo pão ralado da areia. Costuma ser bom caminhar de olhos hesitantes entre o caminho – que há quem diga “se faz caminhando” – e o grande deserto azul. Hoje não. Pensei muito, mas é mesmo isso que costumo fazer, ao ritmo dos passos mais ou menos rápidos. E foi nessa altura que me apeteceu dar um murro em alguém. Enquanto pensava na vida que não levo, em esforços estilhaçados na rocha, na distribuição mal medida de sucessos, em todos aqueles que ontem lá estavam, hoje não se sabe bem por onde andam… Eh, pá, é que me apeteceu mesmo bater em alguém! Tanto que esse alguém começou a ganhar contornos e a já não parecer tão incerto. Tanto que quase bati em mim mesmo, para não variar. Simbolicamente, claro, como uma homenagem azeda.

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Damon at 9:15 da tarde

terça-feira, julho 21, 2009

É um orgulho para mim conduzir-vos até ao site desta amiga, companheira de uma aventura americana já com dois anos, dona de um talento absolutamente irresistível. Foi um orgulho trabalhar com ela, lamento apenas que não tenha sido devidamente valorizada então. Mas sê-lo-á agora, certamente. Ela merece por tudo o que aquela imaginação é capaz de desenhar. E por me ter mostrado a vista mais inesquecível de Manhattan.

Vejam:
Rita Sá

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Damon at 12:44 da tarde

sexta-feira, julho 17, 2009

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Damon at 2:38 da tarde

sexta-feira, julho 10, 2009

Há já muito tempo que não pego nos meus projectos de escrita – aqueles de quem espero beijos e abraços e um agradecimento final. Em vez disso, dedico-me a trabalhos de construção arrastados no tempo ou, pura e simplesmente, a nada. Hoje, enquanto pensava na fruta que me apetecia comprar, reparei num pormenor que me lembrou de uma ideia que tive há coisa de dois anos – um pouco mais, talvez – para me relançar na maratona de escrever um romance. E reparei que continuo a considerá-la uma óptima ideia. Então porque não lhe voltei a pegar, porque estanquei o seu desenvolvimento quando tudo apontava para que fluísse com leveza até ao mar final? Preguiça? Receio? Não, não vou usar a costumeira falta de tempo como desculpa. Estou sempre a tempo, é certo, mas também sei que não devia ter parado. E agora, como recomeçar?...

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Damon at 10:06 da tarde

domingo, julho 05, 2009

canção do momento: patrick wolf, "the stars"

Pronto, fui pela primeira vez ao casamento de um amigo. Daqueles amigos da minha idade, portanto, cuja vida e suas etapas acabam por ter um maior impacto em mim. Não vou a muitos casamentos, por isso, acabo por precisar de esclarecimentos ao longo da cerimónia, particularmente na igreja, onde me sinto completamente a mais. Mas não são esses “pés pelas mãos” a que me fui habituando com regularidade que mais me fazem pensar. É a cena típica de um filme “pipoca”: o solteirão, nostálgico e introspectivo, no casamento do amigo. Sem namorada. Sem uma “escort girl” para disfarçar. Sem nada, a não ser outro amigo – caso único – na mesma situação. Como já deixei claro, a cerimónia religiosa pouco ou nada me diz, a não ser o respeito que me merecem as crenças mais ou menos fundadas dos outros. Mas é a ocasião em si. Eu podia dizer que o casamento me é indiferente, que o que interessa é estar com a pessoa que amamos. E esta última parte é sem dúvida preponderante. Mas eu sou assim, gostava de viver numa casa à beira-mar, com um cão e um gato, a mulher que eu amo e um rebento só nosso. E também gostava de casar. E não me imaginava “tão” solteiro por esta altura da vida. Bom, que o Pedro e a Joana sejam felizes para sempre…

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Damon at 7:01 da tarde

sexta-feira, julho 03, 2009

“You alright? (…) Please note people often do not want to know the answer!”

in BU’s Essential International Welcome Guide

Não é bom sinal… É das atitudes mais irritantes dentro do género “eu estou-me a borrifar para o próximo”. Se as pessoas não querem saber a resposta, então porque perguntam? Porque se convencionou… E há convenções que são extremamente desumanas, egoístas. Cómodas, como qualquer convenção. Eu sou daqueles que não hesitam em responder “não, não está tudo bem” quando me colocam perante essa não-questão “olá, tudo bem?”. É que não faz sentido. Pressuponho ingenuamente – ou teimosamente – que a pessoa que inquire está interessada, nem que pelo mínimo de altruísmo, em mim. Não querem a verdade, então poupem letras e saliva. Tenho dito. Com toda a honestidade possível.

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Damon at 1:01 da manhã

domingo, junho 28, 2009

canção do momento: amy winehouse, "back to black"

Poucos sabem reagir à tristeza. Dissemo-lo e bem. Na verdade, é bem mais fácil partilhar uma piada numa noite de copos mais ou menos cheios, conversar sobre a vida (dos outros) do que lidar com alguma amargura alheia que necessite urgentemente de uma mão pousada na cabeça. Às vezes, é preciso saber ficar triste com o amigo, mais do que tentar mesmo animá-lo. As piadas por vezes fazem-nos chorar. Mas poucos sabem verdadeiramente conversar com um amigo triste sem entrar em pânico, em excessos de tentativas reanimadoras ou pura e simplesmente na mais egoísta das reacções: o frete. Aqueles que conseguem lidar com as crises dos outros merecem um aplauso, ainda que pouco mais recebam do mundo do que isso.

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Damon at 11:04 da tarde

sexta-feira, maio 15, 2009

Os amigos movem-se. Mesmo quando sou eu que me movo, há uma ilusão de sentidos que faz com que aqueles que permanecem, aparentemente se afastem. Como o nosso comboio estacionado na linha parece andar quando é o veículo da linha ao lado que inicia a marcha. Os amigos movem-se porque têm vida, daí que não se atirem pedras, não se culpe ninguém, são as vicississississitudes… E há sempre o medo inegável de que não fiquem. Ou melhor, de que não mantenham o seu estatuto, porque a distância é inimiga da nitidez, há imagens que têm tendência a diluir-se até desaparecerem. Não nego esse medo precoce – ainda falta um verão inteiro pela frente – mas não quero com isto mostrar falta de confiança nesses amigos. Pelo contrário. Do que eu tenho mais receio é da minha inexistência sem a sua presença – tão cobarde que eu sou. Os amigos movem-se. Movem-me. Tocam-me. Mais do que ninguém.

E os amigos são também estes inocentes bichos que adoro e que me adoram de uma forma totalmente inocente, porque inconsciente. Vi parte do debate na SIC. Não o suficiente para tirar conclusões que não tivesse já tirado. Mas ainda fico chocado com a podridão humana. Obrigado, Rodrigo Guedes de Carvalho, por trazer o tema à baila, a bem de uma humanidade desejosa de evolução.

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Damon at 12:32 da manhã

quarta-feira, maio 13, 2009

Fecho os olhos. Sei que ninguém vai entrar porque tranquei a porta. O espaço é meu. Como se mais ninguém existisse, sou egoísta sem prejudicar ninguém – como seria bom que o egoísmo fosse todo assim. Mantenho os olhos fechados. Agora sim, sou livre de viver. E nem por isso canto, grito palavras de ordem, danço ou tiro a roupa. Limito-me a permanecer. Sentado. Sozinho. Nunca mais do que cinco minutos.

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Damon at 12:50 da manhã

segunda-feira, maio 11, 2009

Quase chove. No céu, a ameaça dura desde sexta-feira. Acordei e li as promessas no papel de parede cinzento. Li as promessas e sorri triste como faço quando oiço os políticos. Esses também todos cinzentos. As nuvens soaram demasiado sérias. Ainda me assustei. Os cães uivaram à distância. O comboio que um dia passou nas redondezas buzinou mais perto. Mas sempre quase. Sempre esse quase que não deixa ser. Apenas aproximar, ao mesmo tempo que afasta.

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Damon at 12:51 da manhã

domingo, maio 03, 2009

Viver, às vezes, é ligar a ventoinha a um nível aceitável, apagar as luzes e ouvir a "Gran Torino", pela dupla improvável Jamie Cullum - Clint Eastwood. Que grande filme... Que grande canção...

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Damon at 10:03 da tarde

sábado, abril 11, 2009

I am yet to decide
Whether to write
Or too wrong...

Damon at 2:03 da manhã

domingo, março 15, 2009



Vou enviar para Inglaterra o DVD que marcou aqueles meses de 2004. Que saudades das filmagens na Afurada, no Palácio de Cristal (schhhiu, clandestinas), na estação de comboios abandonada… Tem um cheirinho a adrenalina bem aplicada, esta curta-metragem, pioneira dos vencedores do LSI Dourado… Vai servir de amostra de tempos (bem) passados, lá em Bournemouth. Com o DVD, vão estes três seres estranhíssimos da fotografia, o Bum, a Bella e o Basil, bem como o sensível Manel, o terrível Inverno, a fria Luísa, o frustrado Graham, e muitos outros… Esperemos que eles sejam “sensíveis”, se percebem a ideia…

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Damon at 11:00 da tarde

quarta-feira, março 11, 2009

canção do momento: "hold still", david fonseca e rita redshoes

Está um fim de tarde daqueles. Eu aqui, a ouvir a “Hold Still”, com o David e a Ritinha, enfim… Parece que viajo e gosto e não gosto. Mergulhei em poemas velhos ou antigos, já nem sei. Recordei revoltas de adolescente e tive saudades. 1997. Tanto tempo. E nada. Estes fins de tarde continuam a ser daqueles. E eu continuo a vê-los com a mesma sensação. Do mesmo sítio. No mesmo número.

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Damon at 6:50 da tarde

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Às vezes, apetece fazer top's... Quanto mais não seja para descontrair antes de uma conversa importante. Hoje é este, amanhã pode ser outro, etc...

Eis uma lista de canções que me andam na cabeça ultimamente:

1.Franz Ferdinand – Ulysses
2.The Hours – Back when you were good
3.Morning Runner – It’s not like everyone’s my friend
4.The Hours – Ali in the Jungle
5.Kaiser Chiefs – Never miss a beat
6.Franz Ferdinand – Live Alone
7.Lily Allen – The Fear
8.The Hoosiers – Cops and Robbers
9.Goldfrapp – Clowns
10.Morrissey – Piccadilly Palare

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Damon at 11:54 da manhã

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Frente ao espelho I

Cá estou eu,
Mais uma vez,
Frente ao espelho.
Fina tela de gozo.
Espera por mim todos os dias.

É como se do outro lado
Eu fosse mais feio,
Pior ainda porque o vidro
Se foi riscando
Com o cair da areia
Da erosão dos tectos.

Cá estou, no entanto, incapaz
De me pôr a andar,
Dar de frosques
A toque de corrida,
Sem nunca voltar o pescoço
Para dizer adeus.

Limito-me a
Contemplar a figura odiada,
Desejar outra em lugar dela,
Chego a ter pena do que vejo.

Fico aqui horas a fio,
Cosendo incapacidades,
Inércias e indecisões.

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Damon at 6:09 da tarde


Já me tinham falado do blog, mas confesso que ainda não o tinha ido ver. Sinto-me envergonhado por isso. Iniciativas como esta são louváveis em todos os sentidos e merecem ser apadrinhadas. Por favor, ajudem as meninas do Pintas com Pinta a melhorar a vida de - pelo menos - alguns animais menos afortunados.

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Damon at 11:22 da manhã

terça-feira, fevereiro 03, 2009

História da chuva

Quero chover,
Encharcar de mim os teus cabelos,
Dar brilho à tua pele esquecida
De amor, de abraços, de apoios.

Fazer história, correr rua abaixo,
Em direcção ao rio turvo,
Onde se misturam as lágrimas
E os químicos, lavada a roupa suja,
Quero polir as pedras,
Esculpi-las das memórias
Da minha passagem por ti.

Quero riscar as luzes,
Criar ilusões nos reflexos,
Fazer-te sorrir, acreditando
Na inocência das águas,
As mesmas que matam em alto mar.

Que me bebas,
Que me chores,
Que laves em mim os dedos cansados,
Que te queixes dos meus dias,
Usando-me como desculpa
Para as horas em que és insuportável.

Prefiro chover eu.
Não gosto que chovam pedaços de céu.
E não quero que sejas tu
A desfazer-te em dias cinzentos.

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Damon at 3:43 da tarde