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quinta-feira, novembro 24, 2005
canção do momento: radiohead, «creep»

Os dois extremos de uma corda (antes que o mundo acabe)

Um casal de velhotes
Brinca no parque,
As folhas planam à sua volta
E eles, de mãos dadas,
Rodopiam e fazem piruetas,
Desembrulham sorrisos
Como castanhas assadas de dentro do cartucho,
E caminham sobre o chão estaladiço,
Fazem o pino
E caminham sobre o céu.
Fingem-se crianças.

Entretanto,
Junto à lareira
Que dá estalidos com a língua de fogo,
Adormecem os pais
Enquanto os filhos, faces vermelhas,
Arrumam tachos em miniatura,
Dão de comer aos Nenucos
E caminham no tempo,
Antecipam os sonhos que viram na telenovela das 9,
Onde tudo é ainda quase desenho animado,
Fazem o pino
E abraçam-se.
Fingem-se um casal.

Ás vezes, somos uns;
Outras, somos os outros.
Ambos extremos simpáticos
De uma corda de salto,
De uma pista de carrinhos,
Talvez um lanche kinder, daqui a pouco,
Talvez chá e torradas com geleia
E mais tarde, cansados da brincadeira,
Um pôr-do-sol amornado
Num abraço,
Ao som do acordeão
Nos altifalantes roucos da praia.

No fundo, é tudo medo
De me perder
No meio-termo.

No fundo, é tudo medo
De te perder
Na multidão do tempo.


Damon at 7:34 da tarde

terça-feira, novembro 22, 2005

canção do momento: gorky's zygotic mynci, «face like summer»

Esteve um dia bonito, hoje… Eram 7 da manhã quando me ergui das trevas do meu leito gripal, garganta dormente, narinas congestionadas em hora de ponta e a cabeça com a sensação de ter acabado de sair de uma discoteca. Se fosse mesmo preciso acordar cedo, não conseguiria mas, assim, fui-me sentar na sala a lamentar o acordar doloroso da garganta e a pedir cházinho e paciência. E lá fora, quem diria, o céu azul, a tonalidade amarela a projectar-se nas árvores – aquela tonalidade que me faz sempre pensar no acordeão da «To the end», dos Blur – e as notícias: o trânsito, longe dali, os jornais económicos na revista de imprensa, o Marocas que é um puto e o Cavaco que só anda nisto pelo desporto… Dei preferência aos desenhos animados, à Lilo e ao Stitch, e ao episódio já visto do «Coupling», no People and Arts. E depois, no canal Hollywood, quem diria, àquela hora da manhã, um filme daqueles: «Equus», com o inacreditável Richard Burton – bebia quase tão bem como representava – e a Jenny Agutter, curiosamente, actriz-fetiche de uma das personagens de «Coupling». Depois… fui sonhar com uma sala de aulas cheia de vereadores da Câmara do Porto, com um professor que escrevia nomes de jogadores de futebol no quadro e frases incompletas. A luz foi entrando através das frinchas na janela. Projectou-se no tecto em pequenos traços que pareciam código e fui tendo saudades intercaladas com sonhos estúpidos. Esteve um dia bonito… Pena ter-me passado ao lado.

Damon at 6:55 da tarde