lkkk lkjhg
sábado, novembro 08, 2003
Já li os livros todos do José Luís Peixoto. Fico ansiosamente à espera do próximo. Entretanto, devo dizer que os livros dele vão muito bem com uma caneca de chocolate quente numa noite de inverno. Quem escreve assim e mantém a humildade intacta, merece ganhar o dinheiro que recebem algumas pessoas que se julgam escritoras e andam de nariz rente ao céu... Mas quem escreve assim, também não o faz por dinheiro.

Damon at 4:23 da tarde

sexta-feira, novembro 07, 2003

O som do mar aqui tão perto. E tu, amigo, vais-te embora, levando contigo as palavras que tinhas para me dizer e que não disseste por não haver tempo para conversar, ultimamente. O som do mar e eu nem o vejo. A noite chama-me cego e escreve no céu pequenas nuvens que envolvem a Lua nos seus lençóis. E tu, amigo, caminhas juntinho ao pequeno muro que separa os teus pés da areia fresca da praia, dos passos esquecidos marcados no chão de pequenas serras, pequenos vales, pelo meio dos desenhos que os loucos – aqueles que se apaixonam – deixaram como souvenir da sua passagem por aqui.
O mar lá ao fundo. Pequenas luzes flutuam sobre a sua frescura. São barcos que não levam sonhos, pelo menos, os meus. Os meus sonhos ficam. No dia em que os perder, o mar lá ao fundo há-de receber-me nos seus braços de onda e entre a espuma hei-de perder-me, hei-de fazer amor como fazem os loucos – os que se apaixonam – e beber o sal que me há-de levar até à outra margem a contar da superfície das águas.
O som do mar como pano de fundo. Como banda sonora. Como os lábios que segredam coisas impossíveis, memórias que não tenho e quero ter. O som do mar como voz de mãe que me adormece, que me aconchega nos lençóis de areia e espera que seja a brisa a dar-me o beijo de boa noite.
Tu, amigo, foste embora. Porque tinha que ser. Porque era preciso. Agora a cadeira serve de corpo para o meu casaco cobrir. A cadeira é o ser que o meu casaco protege do frio. O ser que o seu forro macio acaricia com cuidado.
O frágil som do mar. A força das ondas que se distanciam. Talvez regressem mas eu não as vejo. Apenas as sinto. E elas envolvem-me nas suas marés.

Damon at 7:09 da tarde

quarta-feira, novembro 05, 2003

A chuva veio molhar os meus caminhos, hoje. Não sei como hei-de sair de casa sem estragar os sapatos, molhar as meias, arrefecer os pés, desfazer-me como a Amélie e confundir-me com todas as águas de todas as proveniências. Não sei como hei-de fugir ao apelo de me esconder dentro da cama o dia todo, agarrado ao portátil e às canções que fui buscar à internet para me distrair do mais invernoso de todos os meus outonos internos. Algumas das canções chegaram incompletas. Não sei completá-las. As notas desfazem-se-me nas mãos como a água da chuva que se mistura comigo e eu já não sei se sou líquido ou sólido. Gasoso não sou senão voava. Líquido ou sólido. Algumas vozes lembram-me que peso demasiado. Sólido. As mesmas vozes lembram-me que a sensibilidade é uma violência se for para lá do meio termo. Esteve quase a chover nesse minuto. Líquido. O meu corpo transforma-se no caminho da água até que ele próprio se desfaz como a Amélie. Se a Amélie cá estivesse, curar-me-ia com o olhar. Se a Amélie cá estivese, eu seria feito de tela. Sólido, portanto, apesar de desaparecer com o fim do filme.

Damon at 12:14 da tarde


As mensagens de carinho são sempre bem-vindas. Mesmo que por «e-mail fwd». Recebi uma há bocado e gostei muito. Também te desejo muitos dias radiosos. Mas se eventualmente chover e precisares de um impermeável, eu sê-lo-ei, se quiseres.

Damon at 12:08 da manhã