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domingo, setembro 21, 2003
Já nao conto os segredos

Já nao conto os segredos
Através das palavras.
Ninguém me quer ouvir quando falo,
Ninguém se atreve a escutar
Os vocábulos arrogantes que discursam
Nos meus lábios.

Os tempos mudaram, meu caro.
Comunicar é agora uma espécie
De entretenimento, uma diversao
Para preencher o espaço vazio
Entre a estante com livros de enfeitar
E o móvel da televisao.

As conversas mudaram, meu caro.
Dialogar é agora fazer rodopiar as vozes
Como se fazia aos piões
No tempo em que se brincava;
É cacarejar gargalhadas gravadas
Das séries de humor tristes.

E já nao se ri como dantes...
Ri-se muito mais...
Sem cansaço, sem pensar,
«Sem alarmes e sem surpresas»...

Nao me consigo encaixar nesse puzzle.
A minha língua junta-se agora ao latim,
Assassinada por homens que se fazem passar
Por Ghandi’s de calças de ganga
E camisola às riscas
E que em vez de palavras, deitam fumo pela boca
E riem como se ri no século XXI,
Che Guevara’s insufláveis, de sentar no sofá...

Os tempos mudaram, meu caro.
Por isso, eu nao conto os segredos
Através das palavras.

Ainda há quem oiça com os olhos.
Como nós, meu caro.
Eu acredito que sim.

Senao,
Mato os segredos com saliva
Geneticamente modificada.

Damon Durham.

Damon at 4:19 da tarde