domingo, novembro 27, 2005
canção do momento: kent, «september»
O palavrão Há palavras que nos vêm à cabeça
Como sonhos,
Do meio de uma escuridão
Onde se abrem brechas,
Ocasionalmente,
Através das quais os contrabandistas
Trocam tabaco por dinheiro,
E os poetas trocam cartas de amor
Por felicidades incompletas.
Essas palavras,
Filhas da noite,
São cegas como o Rogério,
Da Rua José Falcão mas,
Tal como ele,
Aprenderam música
Sem saber ler as pautas.
São palavras que nos surpreendem
A meio do rude ressonar,
Apanham-nos de boca aberta,
Salivando sem dar por isso,
Despenteados e feios.
São, talvez por isso,
Mais puras, mais genuínas,
Feitas da beleza
Que não enche capas de revistas.
Vêm de dentro,
Do escuro de becos sem saída,
De poços onde a água espera
Para matar a sede
E fermentar a vida.
Saltamos da cama,
Feios, despenteados, desnorteados,
Queremos agarrá-la, não deixar
Escorregar a corda que segura o balão.
Procuramos papel, caneta, lápis, um batom serve,
E a palavra entretanto cresceu,
Ganhou ares de importância,
Tornou-se falsa, quase adulta,
E no sufoco de não haver papel
Nem caneta nem lápis nem batom,
A palavra, que antes era bela e pura,
Acaba por sair pela boca
Transformada em palavrão.
Damon
at
6:06 da tarde