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sábado, abril 26, 2003
(strange isn't it?)

Dark as the bite

There was an old man reading The Raven,
He sounded like thunder, his eyes like rain,
I guess I'll never meet anyone like him again...

We looked like the sleepless nights
We had spent, looking for the corner's end,
Stuck in a wisdom nobody wanted to own.

Yes we were dark as the bite,
The vampire drank too much tonight,
He might say a few words to the press,
He might let them last.

There was a railway that led to emptiness
And the trees were trembling like naked bodies
Stuck in a Russian lake, what a big mistake...

An old lady sang the blues for us,
She sounded mad, but nobody really noticed,
We were all relatives in this wintry family.

Yes we were dark as the bite,
The vampire may have drunken too much, tonight,
But he might say a few words to depress,
He might make us feel worse...

He is the father to all of us.

Damon Durham.

Damon at 6:43 da tarde

quinta-feira, abril 24, 2003

Madrugada de 24 de Abril de 1980. Hope Hospital, Salford, Manchester, Lancashire, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
Na primavera inglesa, na cidade onde 23 anos mais tarde Real Madrid e Manchester United jogariam os quartos-de-final da Liga dos Campeões, um mês antes do suicídio de Ian Curtis, perto do sítio onde os Joy Division dariam origem aos New Order, os primeiros sinais chegavam. Quase ninguém dava por isso. Num hospital de esperança, cheio de enfermeiras irlandesas, sardentas e brancas como as batas que acariciavam a pele delicada dos bebés, alguém batia à porta, pedindo para viver em liberdade, por alturas do 6º aniversário da Grande Revolução. No meio da alvura das peles britânicas, surgiria, por volta das nove e meia, um sujeito moreno, pouco chorão, que viria a ser adepto do Benfica e do clubezito da terra, o Manchester United, e que haveria um dia de querer escrever nessa misteriosa língua - o português. Um casal de emigrantes haveria de sorrir, ignorante do que haveria de ter que aturar, mais tarde, quando o puto se recusasse a comer fígado ou peixe cozido. 23 anos depois, uma dessas enfermeiras irlandesas, de nome Beatrice Connolly, haveria de se lembrar ainda do miúdo que nascia e recordar a data com o envio de um postal com imagens de um jogo de rugby entre as selecções inglesa e escocesa. 23 anos mais tarde, «There is a light that never goes out», dos The Smiths, lembraria ao puto o orgulho da sua cidade natal. Passou tanto tempo, mãe...

Enquanto o miúdo apagava as três velas de um bolo rodeado de gente, nascia no Porto uma bebé, certamente bonita, definitivamente promissora. O destino haveria de querer que estes dois seres se conhecessem, estes miuditos que entretanto cresceriam, a quem a roupa deixaria de servir, que aprenderiam a jogar futebol, a ler e a escrever... ele descobriria o azul do céu; ela reinventaria o roxo... Por caminhos distintos haveriam de ir ter ao mesmo local. Muito prazer em conhecer-te, digo-te eu agora.
Abre os braços e agarra um pedacinho de céu. Esta noite, pega numa estrela e usa-a como farol das recordações do passado e, sobretudo, de todos os sonhos do futuro. Este dia é nosso!

Damon at 2:08 da manhã

domingo, abril 20, 2003

Na sala, com o Sandy aos meus pés, suspirando como aprendeu a fazer comigo, dando ao rabo de cada vez que olho para ele. Na sala, com os Madredeus e a Orquestra Flamenga inteira a cantar olhares entre dois seres que se amam e que subitamente me encaminham para o Manual da Comunicação Química. Na sala, esticando o braço e dando um salto até à Casa dos Espíritos, pousada em cima da mesa, a casa onde tenho passado horas agradáveis nos últimos dias. Na sala, longe de tudo e tão perto, enfim, vivendo, lutando contra o pensamento, tudo em favor do sonho, na sala, vivendo os meus filmes, sim porque a realidade não é cinema, é urgente falar. Eu escrevo. Na sala, com o Sandy adormecido aos meus pés, aquecendo-os com a sua almofada de pêlo loiro. Na sala, de chocolate quente na mão e torradas de broa da Páscoa barradas com manteiga, no prato ao lado. Na sala, tão longe de tudo o que é Terra. Talvez no século passado...

Damon at 1:34 da manhã