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Fui buscar mais um ao caderno preto (este já está um bocadinho rasgado e tem na primeira página uma anotação que diz «a vida é cheia de nomes boi ando»...). O poema é do «já» velhinho «A verdadeira vida está ausente», de Maio de 1999. É do tempo em que ainda me preocupava com rimas, mas gosto dele. Corpo que sangra As pessoas no autocarro; Os putos de cigarro Na mão; No parque, os velhos que conversam; Não te vêem... Os radicais de rádio portátil; As mulheres que do fútil Fazem conversa; Os que andam sempre com pressa; Não te vêem... ...Nem o teu corpo que sangra, Que me recusa como ajuda, Nem o meu coração que se arranca Ao ver-te ali, muda. O motorista do autocarro; O sujeito do banco ao lado; Não vêem, Não reparam no que precisas, Não vêem O que eu vejo dentro de ti: Um corpo que sangra E uma alma jovem que sorri Para não precisar de mim. Deixa-me amparar o rio, Aquecer o sangue (está frio). Deixa-me proteger-te. Eles não te vêem nem querem ver-te. Damon Durham. «Still this house is empty now» na aparelhagem. Anne Sophie von Otter, o que é que estás para aí a dizer? Damon at 7:37 da tarde
What about you, my absent valentine? Your silent voice sings the blues for me, sometimes. Your breath whispers desires which can only be heard in dreams. My eyes they close to touch you. And the darkness is a screen where all our dreams are given the attention they deserve: it's only me, the audience. But don't worry, my absent valentine. The day you'll be born, believe me, I'll be informed, however old I might be then. However old I might feel. Damon at 12:53 da manhã
Damon at 9:22 da tarde
Ai este Inverno, Esta forma de pintar na tela Gotas de água, luzes incendiárias Sem destino certo, tristemente musicais. Estes pontos que deslizam, Derretem no vidro da janela, São ilusões de óptica, Criações de uma alma neurótica, Incapaz de fazer poesia sem chorar. Este inferno, Esta inundada casa de doidos, Onde o fogo é frio e a loucura aquece, Ruboresce nas faces e nos olhos raiados E a máquina do tempo já não é o que era. Fraqueja, a bateria, Não acompanha o ritmo da melodia doce, Perde-se, confunde-se na senilidade Do cansaço. Estamos em Dezembro? Não acaba Dezembro? Ai, este Inverno Faz de mim mais uma gota, Mais uma lágrima que se auto-humilha Na lentidão só dos dias. E tenho vontade de ter vontade, Mas os meus olhos não enganam ninguém. Não se vislumbra a Primavera. Damon Durham. Damon at 2:16 da tarde
Life is not easy For butter-hearted people like me. I often dream too much. In dreams, I feel your touch. Love strikes hard, There’s this pain on my chest, But I only need batteries For my radio and some rest. I’m a fatboy crying, A sentimentalist too weak For this elegant world. I’ve spent the last few weeks Trying to be optimistic But optimism has been sold. I still ride your body, I still drive your soul, But I’m a fatboy crying And getting old. Well, I realise You are really, really nice, But then I see You are too nice for me... I’m a fatboy crying, A sentimentalist, an artist Of defeat and large feet So, call me Godzilla, I’m a serial killer, I’m a serious killer Of myself. Damon Durham. Damon at 1:32 da tarde
Damon at 1:28 da tarde
- A cena começa da seguinte forma: nós todos, numa sala de aula. Mas não sentados. Não, isso seria demasiado típico. O professor (eu sei quem é mas não posso dizer), em cima do estrado, fala para uma turma inteira de pijama, cada um enfiado na sua cama individual. Há alguém que me chama a atenção pela indumentária sexy. Estas camisas de dormir em seda vermelha... Bem, de repente, a sala estica e enchemos por completo o Pavilhão Atlântico (deve ser esse...). Nós ficámos numa bancada extremamente alta e não sei como nos é possível ouvir o que o professor diz, já que mal o vemos. Bem, o sistema de som não deve ser mau. Foi um pormenor que me escapou. De qualquer modo, há um placard electrónico à nossa frente que nos tapa a visão. Para resolver o problema, resolvo pendurar-me numa trave e afastá-lo mais para o lado. Mas eis que o dito cujo se solta e jaz no chão frio do pavilhão. Eu fico preso pelas pontas dos dedos até que percebo ser seguro saltar cá para baixo, já que, por sorte, há colchões por baixo de mim. É uma coincidência macgyveresca. Quando caio, alguém me repreende por me ter aventurado lá em cima e ordenam-me que fique cá em baixo, ao lado de uma rapariguinha simpática inventada para o efeito. Há qualquer coisa de «1984» neste cenário. De qualquer forma, a aula termina e assim acaba a primeira cena, acho. Encontro um amigo meu e falo-lhe da pessoa sexy que vestia uma camisa de dormir em seda vermelha. Temos uma discussão acerca disso. Ele diz que essa peça de roupa não se chama camisa de dormir e eu insisto na minha ideia. Amuamos (como é costume, aliás). E logo hoje que ele ia assistir a uma aula minha... Mas ele vai na mesma. Chegamos à sala, extremamente estreita (uma sala com computadores). À partida, não descortinamos um lugar para nos sentarmos. Na última fila, um aluno retira a mochila da cadeira ao lado para que um de nós se possa sentar. Quando nenhum de nós decide ir para lá, ele mostra-se irritado e é então que eu o reconheço, é o ministro Bagão Felix. Finalmente, cada um de nós encontra um lugar distante um do outro (estamos chateados) e senta-se. Eu estou bem acompanhado. Converso, apesar da pessoa ao lado não parecer muito satisfeita por me ver. Eis que a sala se transforma em combóio e começamos a mover-nos. Eu prossigo a conversa com as pessoas que me acompanham, já que outra se juntou a nós. O meu amigo, lá à frente, bebe vinho branco. Lá fora, um senhor meu conhecido tenta acompanhar o combóio em corrida. Em vão. É tudo do que me lembro, senhor... Como é mesmo o seu nome? - O nome é Freud; Sigmundo Freud... Este é o Salvador d’Ali, o pintor que vai fazer o seu retrato. Damon at 1:10 da manhã
The Smiths Stephen Patrick Morrissey, o que é que estás para aí a dizer?... Damon at 2:32 da manhã
Há palavras que se espalham no espaço amplo do meu corpo em pequenas explosões químicas. Há vocábulos que procuram em vão preencher as lacunas deixadas pelas pás e pelas enxadas, pelas escavadoras e pelos tanques, pelos exércitos de elefantes e pela chuva ácida da desilusão. Nada me preenche. Nada do que tenho. Sinto-me vazio. Sem histórias para contar à lareira, em serões que nunca existiram. Sem novidades que começam com «Sabes?...» e que se contam às sextas-feiras à noite num bar onde um piano encharcado de odores enche de luz a sala cheia de pequenas velas e pequenos candeeiros e grandes amores e pequenos amores e um ou dois estudantes solitários que repetem vezes sem conta memórias de mais de dez anos, etc. Já nem a melancolia das palavras de Brett Andersson me adormece de pensamentos maus, transformando-os numa tristeza «pelo menos» poética. Nos telefonemas, perco o fio do discurso e tudo o que oiço é o silêncio irritante de mim próprio. Falta-me a voz. Falta-me outra voz. Falta-me o espírito do meu irmão em espírito, sentado naquela cadeira daquele café, recortando frases para transformar em poemas e ousando sonhar com sabores de salivas, ousando pedir o que outros não pediram e tiveram. Ele dizia: «Robert Smith, o que é que estás para aí a dizer? Somos jovens, continuamos a sê-lo...» e eu ouvia-o como se o discurso partisse de mim próprio. Mas não. Eu não nasci em Liverpool nem tenho aquele sotaque. Era ele que falava. Ele é que era «o herdeiro dos sonhos de Shakespeare e o sonhador que nunca conheceu o seu verdadeiro Sabor»... Por onde andas, Graham Alexander? Por onde, Alex, meu puto feliz porque tudo nunca passou de um sonho?... Damon at 11:01 da tarde e-boy has a hand in his head, All he wants is to touch the thought, Make it a little more real, To be close would be enough. Dark as night, as the modern knight, His rage offers a chance to win, The alternative was to give in But there's a growing angry voice inside. He'll be an architect of war, «It's fun, sometimes hardcore», he says As the guns are loaded, Soon they shall ejaculate, All in the name of hate. e-boy scratches the doves He would love to kill those who love, He's keen on killing machines All he wants is to feel as horny As George, the cow(ard)boy and Tony, the Pony. Children of the evolution, The world is ready for the new notion: There's a country to protect us from evil, A donkey with the eyes of the devil, It's time to watch the news, live, still alive, 60 minutes of fireworks and country songs, Untouchable in the comfort of our sofas, Who cares if it's a bloody night? We're protected by the stars and the strikes. Damon Durham. Damon at 4:02 da tarde
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outras praias
where words come together as waves, blue and beautiful, dying in the whiteness, but repeating themselves like music notes, from sunrise to sunset to sunrise again. um livro: «Saudades de Nova Iorque», de Pedro Paixão. um filme: «Memento». um disco: «King of limbs», Radiohead. |