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Cançao do momento: «Parabens a voce...» Frase do momento: «Parabens.» Nasci hoje as 9.30. Tu tambem nasces hoje. O dia e nosso. Se ha alguem com quem seja uma honra partilhar a data (ok, tirando o ano...) de nascimento, esse alguem es tu. E portanto a bebe a quem ha um ano dei os parabens, ja cresceu mais um bocadinho. Qualquer dia ja fala e ja anda e observa com os olhos grandes e redondos o mundo a sua volta. MUITOS PARABENS para uma das pessoas mais bonitas (por dentro e por fora) que eu tive o prazer de conhecer ate hoje! Que o dia te seja PROFIQUO (´´e assim que se escreve, nao e?...) e que o ceu permaneça tao bonito como hoje de manha, tao bonito como na hora em que nascemos, mesmo que com tres anos de diferença. Damon at 3:30 da tarde Damon at 8:41 da tarde
Damon at 8:41 da tarde
No próximo sábado vou, finalmente, nascer. Depois de fazer a primária, partirei para a escola da Maia, centro urbano em pleno crescimento, jovem e cheio de gente com um nível de vida acima da média, pleno no entanto de assimetrias que se reflectirão no ambiente escolar. Vou conhecer o Sílvio e o Gildo e, mais tarde, o Nuno. Vou vibrar com uma Daniela que, ao que sei agora, é veterinária. Mais tarde, vou-me atirar de cabeça para dentro de uns olhos azuis e tornar-me poeta à custa deles. Sei que, nos dois primeiros anos, a adaptação não será fácil. No início da década de noventa, eu vou ser um miúdo moralista, com a mania que é um anjo, o que não vai facilitar o diálogo com os meus colegas da cidade. Mas vou fazer amigos. Grandes amigos, alguns deles ainda me vão dar os parabéns quando eu fizer 24 anos, em 2004. O facto da mãe do Miguel ser minha professora de Historia vai fazer com que ele tenha que deixar a turma, o que vai ser bom para mim. Vou-me libertar mais, entregando-me a um grupo que será um dos mais marcantes de que farei parte. No 7º ano vamos, todos juntos, sem alterações, mudar de escola. É nessa altura que vou conhecer o Nuno. E tudo vai mudar. Os intervalos vão deixar de ser simplesmente altura de ir jogar futebol, os furos vão deixar de ser simplesmente momentos para ficarmos sentados a ver as nossas colegas passar. As aulas vão deixar de ser para estar atento. Esta altura será o auge de todas as formas de aproveitar o tempo, o clímax da qualidade de vida na adolescência, com apenas alguns buracos aqui e ali, colmatados com sonhos do tamanho de casas. Vou querer ser piloto de Formula 1, vou ter um kart para dar umas voltas e sonhar ainda mais. Vamos – eu e o Nuno – a tudo o que for festa, romaria, espectáculo de folclore, teatro, manifestação, comício, discurso do padre. E vamo-nos divertir como nunca… mais. O meu pai ainda conduzirá o velhinho Ford Granada e a minha mãe, o Seat Ibiza. Será nesta altura que a minha avó paterna nos deixará para ficarmos cada vez menos lá em casa. Mas será esta a altura mais feliz da minha vida, pelo menos, até aos 24. Talvez não a mais importante. Essa virá a seguir… (continua) Damon at 12:36 da tarde Frase do momento: «Gostas muito do avo, nao gostas?» No proximo sabado, vou nascer... (Parabens a quem nasceu hoje, como o Senhor Meliante...) Sei que no primeiro dia da escola Primaria vou reencontrar o Miguel e ficar espantado por ele estar ali. Vou-me sentar numa carteira daquelas antigas, em que o banco está preso à mesa cujo tampo levanta. Vamo-nos sentar os três – eu, o Miguel e a mãe dele que um dia será minha professora de História. A D. Alegria – que, por falar nisso, conduzirá um BMW de museu, verde fluorescente – não tem propriamente muita paciência. Vai-nos dar «cachaços» e bater-nos com uma cana que chega ao fundo da sala. Não desfazendo, eu vou ser dos mais bem-comportados. Eu e o Miguel vamos passar os intervalos a conversar enquanto os outros jogam futebol. Mais tarde, vou-me arrepender de não ter corrido e saltado mais… Isto vai acontecer em 1986. O meu jogador preferido do Benfica, por esta altura, vai ser o Carlos Manuel, por ter o nome do meu tio e por ser também o jogador preferido do meu avô materno – a grande influência no facto de eu vir a ser benfiquista. De facto, ao longo da minha infância, vou desejar com muita força cada uma das visitas dos meus avós ribatejanos, os meus grandes amigos. Vou passear com o meu avô por caminhos que, anos mais tarde, vão deixar de existir. Vamos conversar os dois com vizinhos que, anos mais tarde, vão deixar de estar lá, ao portão, a espera de que um avô passe com o neto de mão dada. Quando eu fizer oito anos, o meu grande companheiro que eu só via algumas vezes por ano vai-nos deixar. Vou finalmente perceber o inevitável e definitivo. A partir de então, já só posso esperar as visitas da minha avó materna e dos meus tios, tanto os de Santarém como os de Lisboa, juntamente com os meus primos. Aliás, com o meu primo Vasco que, alguns anos mais tarde, vai ser um brilhante licenciado em Medicina, vou viver algumas aventuras, como aquele Carnaval em que um adulto enraivecido por ter sido alvo das nossas pistolas de água me vai tentar destruir a bicicleta atirando-a várias vezes para o chão. Com a minha prima, a Vera, vou mais tarde ter conversas de uma ajuda preciosa. A sua atenção, a sua amizade vão-me ajudar várias vezes e vou desejar não estar tão longe… Outro dos meus grandes amigos, por esta altura, vai ser o Fúria – o nome engana… O meu pastor-alemao irá morar connosco quando eu tiver à volta de três anos e só deixará de respirar quando eu tiver quase dezanove. Pelo meio, correremos o jardim todo, ele tentará morder-me os pés enquanto eu ando de baloiço e encostará a cabeça às grades para que lha cocemos. Mais ou menos por esta altura, vou começar a desmaiar e vou ser tratado por um médico galego. Vou então fazer muitas viagens a meio da noite até Pontevedra e outras tantas para o Hospital de S. João. Um dia, por volta do ano 2004, vou-me aperceber do vazio da minha casa sem todos aqueles amigos. Alguns vão entretanto desaparecer no espaço mas não na memória; outros, cujas visitas serão cada vez mais raras, vão crescer e, tal como vai acontecer comigo, deixar de ter tempo para correr e saltar e passar as férias a brincar. Mas antes que isso aconteça, ainda vou ter tempo de rir e ver muitos episódios do Dartacão e inventar concursos e coleccionar cromos e jogar cartas com a minha avó e ir de bicicleta até sítios que se transformarão em hipermercados onde um dia farei compras e… Antes de 2004, ainda terei tempo de ser feliz. (continua) Damon at 9:08 da tarde Frase do momento: «Ola, Sr. Inverno!» Hope Hospital, Manchester, Abril de 1980 No próximo sábado, vou nascer. Vou ver a luz do dia e sentir-me aconchegado nos braços de uma enfermeira escocesa, sardenta. Avisaram-me à ultima da hora que ia ter que saltar cá para fora um mês mais cedo do que o previsto. Uma maçada… Por um lado, já estou farto de me alimentar sempre da mesma coisa. Por outro lado, isto aqui parece-me bem mais acolhedor do que o mundo dos «grandes». Em princípio, se tudo correr como previsto, vou passar alguns meses a ser empurrado num carrinho pelos parques verdes de Salford, particularmente aquele que se vê da janela do escritório onde o meu pai aparentemente trabalha. Quando me estiver a habituar a humidade do clima inglês e ao leite de soja do Tesco, já sei que me vão levar para um país distante onde se conduz pela direita apesar de todos andarem pela esquerda e onde todos os carros têm alguma coisa pendurada no retrovisor. É o país dos meus pais. Chama-se Portugal e pelo menos parece ser bastante mais quente… O meu avô paterno, doente, é a razão da nossa mudança. No fim, poucas recordações vou ter dele, já que morrerá quando eu tiver dois anos. Com três anos, vão-me inscrever no Lúmen, para eu fazer a pré-primaria. Vai haver lá uma funcionária a quem vou chamar «tio». Quando ela me perguntar «e porque não tia?», vou responder «porque pareces um homem…». Lá, vou conhecer o Miguel, que me vai acompanhar na Primaria e um ano na Preparatória e que vai ser o meu melhor amigo (sim, aquele que agora passa por mim na rua e não me vê, coitado…). Com cinco anos, vou dizer aos meus pais que estou apaixonado por uma Ana que faz anos no mesmo dia que eu e que não me vai ligar nenhuma. Aliás, eu só vou às festas de anos dela porque a mãe dela me vai convidar. Vou ser um miúdo tímido com quem quase ninguém brinca mas vou ser feliz, nesta fase. Nos tempos livres, vou construir casas com Lego e arrumar os carrinhos nas garagens debaixo dos móveis, achando sempre que cada família deve ter pelo menos um carro pequeno, um carro familiar, uma «space wagon» e um jipe. As vezes, também vou rabiscar papéis, fingindo que sei escrever, e entrevistar pessoas com uma caneta em vez de um microfone. (continua) Damon at 11:49 da tarde Damon at 12:46 da tarde
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outras praias
where words come together as waves, blue and beautiful, dying in the whiteness, but repeating themselves like music notes, from sunrise to sunset to sunrise again. um livro: «Saudades de Nova Iorque», de Pedro Paixão. um filme: «Memento». um disco: «King of limbs», Radiohead. |