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Progressivamente, como eu digo. Quase sem que o mundo se aperceba. Apenas eu e alguns paparazzi que rondam a porta do meu quarto em busca de sangue visível. Claro que apenas levam daquele transparente que cai dos olhos, mas eles insistem. Um dia, vais acordar e perceber que todos aqueles dias em que rimos de corpo inteiro não passam de recordações encerradas em livros agrafados, com capas feitas com colagens, ou cassetes onde as vozes fazem o favor de mostrar a felicidade que um dia existiu. Nesse dia, vais lembrar a campainha do telefone, as frases típicas que fomos acumulando e a cafeína quente que derramámos em conversas de todas as cores e formatos. Nesse dia, vais-te aperceber de que tudo mudou, há muito tempo. Progressivamente, como eu digo. Nesse dia, vais-te lembrar e vais-te esquecer, adormecido na pele quente de alguém encostado a ti. Damon at 3:25 da tarde sei lá se a chuva algum dia vai parar. sei que o ar cá dentro asfixia e que a escuridão cega. e que o silêncio das bocas de incêndio me corta os ouvidos numa dor aguda. não quero assassinar mais uma sexta-feira. não quero ter medo do sábado. e pavor do domingo. quero que nasça um sol nocturno. uma lua cheia serve. e um chão onde quatro pés de cada vez dêem os passos precisos para alcançar a praia. sei lá se a chuva algum dia vai parar. Damon at 9:33 da tarde
As feridas Imagina as feridas Dentro de mim. Algumas conseguem ver-se Do lado de fora, Onde ainda se acendem as luzes À noite. Há quem atire pedras E consiga acertar no alvo E leve para casa o prémio Que eu não consigo entender, Está escrito na língua das pedras, Das lágrimas E dos bombardeiros. Imagina as feridas E o sangue que preenche as crateras, Só o sangue, Matando aos poucos Num barulho de ácidos Que riem. Imagina as feridas Do silêncio. Algumas ainda conseguem ouvir-se Como as pedras E as lágrimas E as bombas lançadas do ar. Imagina o sangue corrosivo, As horas sem beijos, (Os beijos sem horas?), O impulso que não se pode ter, Não se pode sentir Principalmente Quando tens olhos que vêem E deixam ver. Principalmente Quando tens olhos que choram Quase sem dar por isso. Damon Durham. Damon at 12:14 da tarde
Não há tempo. Ele esgota-se em círculos, em frente a um computador, a ver ondas sonoras passar, a ouvir vezes sem conta as mesmas palavras e a contar segundos para um discurso que se quer jornalístico. Não há tempo para pegar nos cd's emprestados e ir ouvi-los para o jardim, enquanto o vento nos faz desejar os braços de alguém. Ainda não consegui ouvir o Elliott Smith (desculpa, Joana!) Ainda não consegui ouvir a P.J. Harvey (desculpa, João!) Queria passar a vir cá mais vezes, talvez pelo secreto desejo de compensar o tempo perdido em silêncio. Mas agora não dá. Amanhã, quando as ondas deixarem de ser manchas no monitor e puderem, enfim, rebentar na areia da praia. Eu quero estar lá, a apanhar bocadinhos de onda com as mãos em concha, com o meu discman carregadinho de grandes melodias. Damon at 12:49 da manhã Cais Para um nocturno mar partem navios, Para um nocturno mar intenso e azul Como um coração de medusa Como um interior de anémona. Naturalmente Simplesmente Sem destruição e sem poemas, Para um nocturno mar roxo de peixes Sem destruição e sem poemas Assombrados por miríades de luzes Para um nocturno mar vão os navios. Vão O seu rouco grito é de quem fica No cais dividido e mutilado E destruído entres poemas pasma. Sophia de Mello Breyner Andresen. Damon at 9:35 da tarde
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outras praias
where words come together as waves, blue and beautiful, dying in the whiteness, but repeating themselves like music notes, from sunrise to sunset to sunrise again. um livro: «Saudades de Nova Iorque», de Pedro Paixão. um filme: «Memento». um disco: «King of limbs», Radiohead. |