lkkk lkjhg
sábado, abril 30, 2005
Adoraria dar a alegria aos meus amigos de lhes dizer que me sinto feliz. Aos amigos que tenho, que sao daqueles fortes, rijos, que cheiram bem e nao sao geneticamente modificados, como os produtos do campo.

Se fosse suficientemente importante para os ter, adoraria mostrar aos meus inimigos o quanto sou forte e rijo, o quanto cheiro ao suor dos vencedores, que toda a gente sabe tem o cheiro dos louros, da camomila e da hortela-pimenta.

Tive a má sorte de nascer assim, carne, osso e este maldito sumo que as vezes é mais ácido que a toranja. Nasci homem mais do que mito, ou seja, frágil como todos os homens, ou seja, ao contrário do mito, que é forte e rijo, com um coraçao que levanta halteres em provas olímpicas.

Sou um homem pouco forte, porque estou cansado. Triste. Só. Coberto de poeira que se mete nos olhos e faz chorar. Choro demasiado. Mais do que o senhor doutor recomendou. Nao preciso de lágrimas artificiais. Elas vem. Lá do fundo de um poço de ras. Choro no caminho para casa. Sozinho no quarto. No géiser de uma conversa, quando já nao se aguenta.

Nao me apetece estar sozinho. E o silencio é terrível no meio do barulho. Tal como a escuridao é asfixiante em frente aos holofotes. Como a solidao é aterradora enquanto os outros dançam. Nao me apetece continuar sozinho. Com uma vergonha secreta dos «eu nunca…», cartazes que jamais foram arrancados das minhas paredes.

Vinte e cinco vezes as velas se apagaram. Qual menina dos fósforos, vou acendendo a madeira húmida para me aquecer. Mas já nao chega. E nunca. Nunca. Alguém me censura quando eu nunca…? Alguém me censura quando eu nunca… apesar de ter sempre… sempre… tentado, com toda a força, com todo o sumo, sentir o que é verdadeiramente viver?

Cometi um crime? O horror de ter assassinado jovens indefesas com uma seta sem sentido, uma vontade de ser especial, de dar e receber, já agora, de ser abraçado, essa obscenidade, esse palavrao que os lábios expelem quando se tocam. Saber a que sabe. Obsceno! Criminoso! Sentir o conforto de uns braços, o odor das palavras que cheiram bem… Santa Inquisiç?o vos proteja de hereges como eu…

Sinto-me triste. Só. Cansado. Frustrado. Curvado na hora das refeiçoes. Com uma ruga no meio da testa e os olhos descaídos, habituados ao cimento do chao. Incapaz de disfarçar. Só. Até que alguém me desse a mao. Só me desse a mao. És capaz de me censurar?

Aqui estou eu, nu perante uma plateia pouco estupefacta. Sou eu como tu, amigo por tempos desaparecido, sempre disseste conhecer-me. Sincero. Se tentasse nao s?-lo, nao conseguiria. É que eu sou assim, mais homem do que mito, feito de carne, osso e sumo. E água que mata a sede aos canteiros por onde passo. A caminho de casa. Sozinho no quarto. No géiser de uma conversa, quando já nao se aguenta.

É só uma fase, pouco mais do que uma frase…

Damon at 4:50 da manhã

segunda-feira, abril 25, 2005

cançao do momento: morrissey, «i'd love to»

O dia de hoje é feito de ar. O dia de hoje é feito do vento que eleva em danças soltas as serpentinas e os braços das crianças. O dia de hoje é feito de marés e de luas e do azul intermitente do céu. E sao os cravos vermelhos que dao cor aos coraçoes livres.

Damon at 6:23 da tarde

domingo, abril 24, 2005

Acredito que, quando nasceste, trazias nos grandes olhos castanhos o desejo de viajar. Acredito que quando, pela primeira vez, os grandes olhos viram o mundo, mexeste os bracinhos inocentes e tentaste comunicar as tuas primeiras vontades através de gestos que apenas enterneceram. Irritada, por momentos, franziste duas sobrancelhas minúsculas de uma forma que mais ninguém consegue, acabando por desenhar duas infantis manchas vermelhas nas bochechas, quando te apercebeste de que havia gente a olhar para ti. Acredito que nasceste com sono. Ou melhor, tu é que dizer que queres dormir porque, no fundo, acredito que o que tu desejas é sonhar. Mesmo que os sonhos passem por ti sem que te apercebas. Acredito que, momentos depois de nascer, sorriste e os dois grandes olhos castanhos sorriram contigo. Acredito que esse dia foi há precisamente vinte e dois anos. Acredito que os culpados pelo teu repentino existir merecem uns valentes parabéns… (e já agora, tu também).

Damon at 4:52 da tarde