lkkk lkjhg
sábado, dezembro 10, 2005
canção do momento: craig armstrong, «let's go out tonight»

Bio-amnésia

Às vezes,
Esqueço-me de quem sou
E dedilho hipóteses
Na guitarra do meu avô,
Aproveito as horas mortas
E os dedos compridos.

Esqueço-me
De quem já não sou,
Da razão e de aprender
As filosofias
Que mudam a cor do cabelo.

Se tenho uma janela
Que se estende em campos, à minha frente,
Emigro por ela,
Procuro trabalho lá fora,
Estendo os braços à enxada
E escavo, escravo
Da liberdade de viajar.

Se todas as janelas se fecham,
Mascaradas de agentes da PIDE,
Murcho no meu vaso, mas só cinco minutos.
Depois, acordo para o sono
E para os aviões de papel
Que sobrevoam a minha casa
Nas proximidades do aeroporto.

Às vezes,
Esqueço-me de quem sou.
E quando me lembro, de novo,
Nem sempre fico satisfeito.

Damon at 2:45 da manhã

quinta-feira, dezembro 08, 2005

canção do momento: thomas newman, «dead already»

Sono desconhecido

Esta noite sonhei
Que chovia no meu quarto,
Chuva verdadeira, daquela que molha,
Daquela que rega, daquela que inunda,
Daquela que bate contra a janela,
Mas desta vez batia por dentro.

Os seus cabelos longos
Penduravam-se do tecto
Como candeeiros de cristal
E não descansavam até tocar o chão,
Rendido à sede, rendido ao brilho,
Rendido às previsões meteorológicas,
“Eles bem diziam que ia chover
Por estes lados”.

O mais engraçado é que
Apesar de cair incessantemente,
A chuva não inundava o meu quarto,
Não fazia barulho, não me encharcava
E deixava-me dormir, tranquilo,
Um sono desconhecido.

E a chuva passava,
Como a chuva verdadeira,
Não sei porquê, mas eu sabia
Que o sol estava ali à espreita,
Como a senhora da limpeza,
Para arrumar o quarto
Depois da tempestade inofensiva.

Talvez fosse esse conhecimento
Que não me deixasse molhar,
Que me protegesse de gripes,
Constipações e febres
E me deixasse dormir, tranquilo,
O sono desconhecido.


Damon at 10:24 da tarde