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segunda-feira, abril 11, 2011
O sonho de Saramago

Apaixonei-me pela escrita de Saramago depois de ler um livro que agora, com os óculos de ver ao longe, nem me parece dos melhores, chamava-se “Todos os Nomes”. Já não me faltam muitos para ter lido a obra completa, ambição que acarreta o desgosto de, lido o último, não haver mais para ler.

“Jangada de Pedra” teria sido uma escolha óbvia, logo no inicio do percurso. O facto de ter visto o filme de George Sluizer atrasou o processo. Por norma, leio o livro antes de ver o filme mas o DVD estava ali à mão e a versão em papel não, por isso…

Anos volvidos, resolvi que era tempo de pegar no sonho ibérico de Saramago, o registo romântico da ideia repetida inúmeras vezes em entrevistas, cá como lá. Ao mesmo tempo, um certo cepticismo relativamente a uma Europa aparentemente próxima e distante na prática também fica demonstrado, apimentado ainda pela anedota de ficar Gibraltar náufrago a ver partir o resto da jangada.

É um bom livro, quanto a mim, mas não está ao nível dos extraordinários “Ensaio sobre a cegueira”, “Memorial do Convento” e mesmo “As intermitências da morte” e “A viagem do elefante”.

Quis o destino que por estes dias em que me fiz ao mar à boleia de uma jangada saísse um estudo sobre a possibilidade de uma “união ibérica”. 46 % dos portugueses e 39 % dos espanhóis parecem concordar. Eu diria que essa “união”, numa versão mais amarga, com laivos de imperialismo subtil, já existe há algum tempo, desde que temos contas no Santander, compramos a roupa na Zara, pomos gasolina na Repsol, comemos peixe da Pescanova e enchemos o El Corte Inglés. Ah e pior que tudo, dobramos anúncios com uma cantiguinha à Paulo Bento.

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Damon at 3:36 da tarde