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Numa viagem de comboio entre Gunnislake e Plymouth, desejei vigorosamente estar lá fora, no crepúsculo indeciso. Lá fora: Casas de montanha com grandes varandas observadoras de vales e montes e das misteriosas – porque ainda não tive oportunidade de as investigar – chaminés da Cornualha. Cá dentro: O ruminar rítmico da máquina. Eu, com olhar absorvente apontado ao roteiro descrito no folheto. Um homem que discute os assuntos do dia consigo próprio. Lá fora: As chaminés, altas e magras, misteriosos tubos que se escondem entre as árvores e se distinguem pela ausência de folhas e flores. Um rio que tímido aparece. Cá dentro: Um grupo de jovens bem-parecidos, bem-vestidos e bêbados, discute a melhor maneira de usar o extintor da carruagem para o entretenimento dos passageiros. Lá fora: O rio cresce, deixando para trás essa timidez de recém-nascido. As casas desaparecem, cedendo à natureza todo o protagonismo. Cá dentro: Um segundo grupo de jovens, não tão bem-parecidos, definitivamente menos bem-vestidos, igualmente bêbados, junta-se à festa no outro extremo da carruagem. Lá fora: A beleza inigualável das pontes. Rio de ambos os lados, a ilusão de voar. Lá em baixo, as descontracção ajudada de uma aldeia conquistada à paisagem pelos hippies. Cá dentro: Um dos jovens menos bem-parecidos rouba o bilhete a um dos jovens bem-vestidos, mesmo a tempo de o mostrar ao revisor. Anuncia-se a guerra entre dois grupos de jovens igualmente ansiosos de adrenalina, igualmente bêbados. Lá fora: Dois rios que se acenam, sabendo que acabarão por se encontrar. Uma luz triste reflecte neles e inspira os poetas que andam de comboio. Uma árvore morta, caída na terra com ar descansado. O anúncio do fim. Da viagem. Cá dentro: Ânimos mais calmos. Pequenas provocações e trocas pouco precisas de olhares. O homem continua a discutir consigo próprio, sem conclusão à vista, ao contrário da estação de Plymouth, no horizonte próximo. Lá fora: A polícia aguarda os dois grupos de jovens. Cá dentro, na minha ingenuamente distorcida percepção, vão ser presos pelo crime de viagem mal-aproveitada, ofensa à paisagem pela indiferença demonstrada ao não olhar pela janela; lá fora, talvez sejam repreendidos por vandalismo e roubo de bilhetes. Que apenas lhes serviram para viajar de A para B. Quem é que anda de comboio para isso?... Etiquetas: comboio, inglaterra, plymouth Damon at 9:01 da tarde Hoje, apeteceu-me ser pai. Não que amanhã já não queira. Não que isso nunca me tenha passado pela cabeça. Pelo contrário, há muito – eu diria desde que penso no assunto – que tenho esse desejo. Como um horizonte, não como uma realidade palpável e imediata. Mas hoje apeteceu-me ter nos braços uma criança – menino ou menina, pouco importa – que me observasse com o orgulho reflectido nos meus olhos e me chamasse “papá”, “pai”, “daddy”… Bah, estou certo de que consigo aguentar mais algum tempo. Damon at 5:51 da tarde As séries, ao contrário dos filmes, são muito mais do que instantâneos que se guardam na gaveta depois de vistos uma vez. Duas, três, quatro, que seja. Continuam a ser memórias isoladas. As séries tornam-se hábitos, rotinas como o café dos domingos de manhã ou a ida ao bar, à sexta à noite. Isso acontece mesmo que as vejamos de uma assentada e não esperando pela tradicional transmissão televisiva. Seis temporadas equivalem a muitas horas, acima de tudo a uma ilusão de cumplicidade extraordinária. Não fosse uma – desejável – racionalidade a relativizar as coisas, e o fim do Lost equivaleria a uma amarga despedida de muitos amigos chegados. Claro que entretanto outras séries tomarão o seu lugar e rapidamente me habituarei a “sair” com outras pessoas, noutros sítios, com outros temas de conversa. Ao longo da série, houve – como é normal em qualquer um – personagens que fui sentindo mais próximas, por razões diferentes: pelo carácter, pela beleza, pela qualidade do actor ou da actriz. Por estes e por outros motivos dificilmente explicáveis sem a ajuda de um psicanalista, o Locke, o Sawyer, o Ben Linus, o Desmond e – claro – a Kate destacaram-se das outras, mesmo tendo em conta o inegável talento do Matthew Fox (Jack) ou do Naveen Andrews (Sayid). Aos actores que deram vida a todas estas personagens, espero vê-los em breve noutras paragens. Mesmo correndo o risco de os confundir com os passageiros do voo Oceanic 815 e consequentes conhecimentos. Damon at 6:04 da tarde
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outras praias
where words come together as waves, blue and beautiful, dying in the whiteness, but repeating themselves like music notes, from sunrise to sunset to sunrise again. um livro: «Saudades de Nova Iorque», de Pedro Paixão. um filme: «Memento». um disco: «King of limbs», Radiohead. |