lkkk lkjhg
sábado, junho 05, 2010
Numa viagem de comboio entre Gunnislake e Plymouth, desejei vigorosamente estar lá fora, no crepúsculo indeciso.

Lá fora:
Casas de montanha com grandes varandas observadoras de vales e montes e das misteriosas – porque ainda não tive oportunidade de as investigar – chaminés da Cornualha.

Cá dentro:
O ruminar rítmico da máquina. Eu, com olhar absorvente apontado ao roteiro descrito no folheto. Um homem que discute os assuntos do dia consigo próprio.

Lá fora:
As chaminés, altas e magras, misteriosos tubos que se escondem entre as árvores e se distinguem pela ausência de folhas e flores. Um rio que tímido aparece.

Cá dentro:
Um grupo de jovens bem-parecidos, bem-vestidos e bêbados, discute a melhor maneira de usar o extintor da carruagem para o entretenimento dos passageiros.

Lá fora:
O rio cresce, deixando para trás essa timidez de recém-nascido. As casas desaparecem, cedendo à natureza todo o protagonismo.

Cá dentro:
Um segundo grupo de jovens, não tão bem-parecidos, definitivamente menos bem-vestidos, igualmente bêbados, junta-se à festa no outro extremo da carruagem.

Lá fora:
A beleza inigualável das pontes. Rio de ambos os lados, a ilusão de voar. Lá em baixo, as descontracção ajudada de uma aldeia conquistada à paisagem pelos hippies.

Cá dentro:
Um dos jovens menos bem-parecidos rouba o bilhete a um dos jovens bem-vestidos, mesmo a tempo de o mostrar ao revisor. Anuncia-se a guerra entre dois grupos de jovens igualmente ansiosos de adrenalina, igualmente bêbados.

Lá fora:
Dois rios que se acenam, sabendo que acabarão por se encontrar. Uma luz triste reflecte neles e inspira os poetas que andam de comboio. Uma árvore morta, caída na terra com ar descansado. O anúncio do fim. Da viagem.

Cá dentro:
Ânimos mais calmos. Pequenas provocações e trocas pouco precisas de olhares. O homem continua a discutir consigo próprio, sem conclusão à vista, ao contrário da estação de Plymouth, no horizonte próximo.

Lá fora:
A polícia aguarda os dois grupos de jovens. Cá dentro, na minha ingenuamente distorcida percepção, vão ser presos pelo crime de viagem mal-aproveitada, ofensa à paisagem pela indiferença demonstrada ao não olhar pela janela; lá fora, talvez sejam repreendidos por vandalismo e roubo de bilhetes. Que apenas lhes serviram para viajar de A para B. Quem é que anda de comboio para isso?...

Etiquetas: , ,


Damon at 9:01 da tarde

terça-feira, junho 01, 2010

canção do momento: albert hammond jr., “in transit”

Hoje, apeteceu-me ser pai. Não que amanhã já não queira. Não que isso nunca me tenha passado pela cabeça. Pelo contrário, há muito – eu diria desde que penso no assunto – que tenho esse desejo. Como um horizonte, não como uma realidade palpável e imediata. Mas hoje apeteceu-me ter nos braços uma criança – menino ou menina, pouco importa – que me observasse com o orgulho reflectido nos meus olhos e me chamasse “papá”, “pai”, “daddy”… Bah, estou certo de que consigo aguentar mais algum tempo.

Etiquetas: ,


Damon at 5:51 da tarde

domingo, maio 30, 2010

Lost without you



As séries, ao contrário dos filmes, são muito mais do que instantâneos que se guardam na gaveta depois de vistos uma vez. Duas, três, quatro, que seja. Continuam a ser memórias isoladas. As séries tornam-se hábitos, rotinas como o café dos domingos de manhã ou a ida ao bar, à sexta à noite. Isso acontece mesmo que as vejamos de uma assentada e não esperando pela tradicional transmissão televisiva. Seis temporadas equivalem a muitas horas, acima de tudo a uma ilusão de cumplicidade extraordinária. Não fosse uma – desejável – racionalidade a relativizar as coisas, e o fim do Lost equivaleria a uma amarga despedida de muitos amigos chegados. Claro que entretanto outras séries tomarão o seu lugar e rapidamente me habituarei a “sair” com outras pessoas, noutros sítios, com outros temas de conversa.

Ao longo da série, houve – como é normal em qualquer um – personagens que fui sentindo mais próximas, por razões diferentes: pelo carácter, pela beleza, pela qualidade do actor ou da actriz. Por estes e por outros motivos dificilmente explicáveis sem a ajuda de um psicanalista, o Locke, o Sawyer, o Ben Linus, o Desmond e – claro – a Kate destacaram-se das outras, mesmo tendo em conta o inegável talento do Matthew Fox (Jack) ou do Naveen Andrews (Sayid). Aos actores que deram vida a todas estas personagens, espero vê-los em breve noutras paragens. Mesmo correndo o risco de os confundir com os passageiros do voo Oceanic 815 e consequentes conhecimentos.

Etiquetas: ,


Damon at 6:04 da tarde