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sexta-feira, junho 30, 2006
«Para fazer uma obra de arte, não basta ter talento, não basta ter força; é preciso viver um grande amor.»

Amadeus Mozart

O amor que vivemos, eu e tu. Lembras-te? Era um futuro pouco próximo, um Inverno de flores a abrir. Jurámos pintar um quadro juntos nas margens do Vltava, que passeava como um mar revolto correndo para ontem. Fá-lo-íamos bruto, como o rio que inunda as casas incendiadas de Praga; fá-lo-íamos com garras, como Kafka lamentava da sua cidade; fá-lo-íamos dos nossos corpos e para sempre.
Lembras-te do amor que vivemos? Aquele que nunca passou da intenção de um pequeno pedaço de papel, preso ao frigorífico pelo magnetismo de uma marca de iogurtes; aquele que nunca existiu…
Ainda ontem me sentei nessas mesmas folhas secas que se banham de sol, junto ao rio, e lembrei esse futuro nada próximo. Reli as cartas que nunca escrevi e reflecti acerca das razões que nunca me deste para a tua partida. Todos esses objectos de alma são palpáveis na minha memória, apesar de nunca me terem tocado as mãos. Talvez porque o Vltava me tenha lavado as ideias, levado as imagens para o passado, eu tenha a certeza de ter passeado por aqui, de mão dada contigo, de olhos postos num sorriso que pressagiava memórias iguais a ele.
É curioso como se desenha na perfeição a forma doce como me apontaste a Ponte Carlos, cheia de turistas pequeninos, insignificantes, prestes a ser engolidos pela magia da tua cidade. É curioso, quase tanto como o facto de isso nunca ter acontecido; quase tanto como o mais provável ser que esse futuro tenha passado sem que eu desse por ele; mas nunca tão curioso como o facto de teres morrido havia muito, quando eu nasci.

Damon at 5:31 da tarde