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domingo, fevereiro 09, 2003
A casa onde já não mora ninguém

Chegámos lá ao fim da tarde,
Tom aconchegava-se ao casaco
À falta de roupa mais quente,
O Sol estava triste e despedia-se.

Quatro paredes de histórias,
Um telhado de cabelo a cair,
E à porta um tapete roto do pouco uso,
Esperando pés que o gastassem,
Que mostrassem assim o respeito
Pela casa onde já não mora ninguém.

Tom abiu a porta que ganiu,
A luz que entrava pelas janelas incapazes
De esconder a desgraça do corpo
Era a da melancolia do fim.

Tom apercebeu-se
Da solenidade do momento.

Subimos as escadas podres,
Enfiámos os pés em buracos rotos
Outrora pontos de passagem
De passos felizes, apressados,
Em direcção a quartos onde os brinquedos dormiam.

Lá em cima, morava a memória
Adormecida em caixas de cartão e quadros
Que parecem segurar as paredes
Velhas, implorando uma eutanásia de caterpillars.

Tom e eu, sentados aos pés da cama
Onde a ferrugem substituiu o ferro
Tal como as lágrimas substituem os olhos
Quando voltamos a ser humanos.
Tom chorou.

Reconheceu naquele espaço
O abraço quente do seu passado,
O beijo na face ao deitar
As histórias contadas
E as outras, que ficaram por contar.

Naquela casa,
Já não mora ninguém.

Ficámos ali dez minutos,
Um por cada dedo das mãos
Que acariciaram o pó dos dias,
A última marca do tempo
Em que aquele sítio vivia.

Depois, saímos,
Passámos os quadros tristes,
As escadas mutiladas,
A porta que gania,
O tapete esquecido do uso...

Então, Tom fez sinal
Ao homem do capacete.
Era um bom negócio,
A vida não está para lágrimas.
E o monstro mecânico avançou
E naquela casa, já não mora ninguém,
Nem o tapete nem a porta nem as escadas nem os quadros nem a cama nem eu nem Tom.

Damon Durham.

Damon at 7:38 da tarde