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sexta-feira, janeiro 31, 2003
O dia em que quase conheci alguém parecido comigo

Estava um dia que era noite,
Eu tinha ido almoçar
Ao mesmo restaurante chinês
(Chop suey de galinha,
Se te interessa...).

À saída,
A chuva escorregava por mim,
Dava-me de beber a sobremesa
E empurrava-me rua abaixo,
Obrigou-me a entrar no café.

Nunca lá tinha ido.
Escolhi uma cadeira para me sentar,
Uma mesa onde apoiar os braços
E procurei alguém
Onde os meus olhos pudessem repousar.

Ninguém suportava o peso do meu olhar,
Ninguém aceitava a proposta que eu fazia,
Um visual contrato, momentâneo,
Um amor que se faz com os olhos,
Instantâneo.

Então, senti-me descolorir,
Eu era uma televisão daquelas antigas,
Em madeira, sem comando e a preto-e-branco,
Enquanto os outros eram Pal Plus,
Com Dolby Surround e teletexto.

Deixei que os olhos descaíssem
Como os seios da mulher antiga,
Desiludida com as rugas da vida,
E foi nesse momento que, sem eu ver,
Surgiu um novo ser.

Vinha de fora, como eu,
Não da chuva nem de outro país;
De um outro sítio sem tecto nem chão
Nem paredes nem saneamento básico,
Um lugar sem espaço.

Tal como eu, vi-o descolorir,
Tomar a cor cinzenta da diferença
E fitar-me com uns olhos que eram verdes
Mas perderam a esperança.
Sentou-se à minha frente.

Foi então que me vi crescer,
Os meus braços foram heras.
Quis tocar-lhe, ser seu irmão,
Desenhei um sorriso e recebi um igual,
E momentaneamente fui arco-íris.

Mas a sorte é algo que acaba
Tantas vezes que assassina a esperança.
Vi-o tirar um lenço azul do bolso
E percebi. Virei-me para mim próprio e disse:
«Ainda não é desta!».

Damon Durham

Damon at 9:57 da tarde